Mais de 1/3 dos proprietários rurais de Rondônia está na faixa etária mais vulnerável à COVID-19
Por mais tecnológica que a agricultura tenha se tornado, ainda é dependente do fator humano. São necessários verdadeiros exércitos que usam conhecimento e força de trabalho para movimentar o agronegócio, que é a mola mestra da economia brasileira. Mas, estes bravos combatentes estão envelhecendo no campo, a população rural diminui e a sucessão não está ocorrendo na mesma proporção. Os jovens, de forma geral, não se sentem atraídos pelo labor no campo. Em Rondônia o cenário não é diferente.
De acordo com a análise dos dados do Censo Agropecuário de 2017, houve um aumento de 9,6% no número de donos de estabelecimentos agropecuários em Rondônia com mais de 55 anos de idade, em relação ao Censo de 2006, e estes são responsáveis por 39,2% dos estabelecimentos existentes. Isto significa que, mais de um terço dos donos de estabelecimentos agropecuários no estado estão na faixa etária considerada grupo de risco à COVID-19.
A pandemia expõe um problema que há muito é discutido no país. É mais um desafio para os produtores rurais nessa faixa etária, pois o dia a dia do campo exige presença constante, quer seja plantando, cuidando ou colhendo a produção. Momento ideal para reflexões acerca de se implementar ações concretas que permitam aos jovens trabalhadores rurais permanecerem junto aos seus, conectados à oportunidade de lazer, renda própria, ambiente familiar e de relações socioeconômicas satisfatórias.
O êxodo rural, entre os Censos Agropecuários de 2006 e 2017, evidencia isso. Enquanto em 2006 o número de pessoas ocupadas por estabelecimento era de 4,5 pessoas, em 2017 foi de três pessoas, redução de 33,3% em pouco menos de 11 anos.
Em Rondônia, no Censo de 2017 foram computados 91.438 estabelecimentos agropecuários, sendo que 74.329 (81,3%) deles foram classificados como de agricultura familiar. Do Censo de 2006 para 2017, houve aumento de 9,3% da área dos estabelecimentos agropecuários, saindo de 8.433.868 hectares para 9.219.883 hectares. Destes, 39,2% eram dirigidos por pessoas acima de 55 anos, sendo que, em 2006, esse contingente correspondia a 29,6%.
Avaliando-se sob outro ângulo, a população até 55 anos diminuiu, passando de 67,4% em 2006 para 60,6% em 2017. Na faixa etária até 45 anos essa redução foi mais acentuada, com diferença de 11,4% entre os dois levantamentos censitários. A Figura 1 apresenta a distribuição percentual dos responsáveis pelos estabelecimentos de acordo com a faixa etária, considerando os Censos Agropecuários de 2006 e 2017.
Reflexo desse envelhecimento no campo é o fato de que o número de estabelecimentos rurais que foram contemplados com recursos de aposentadorias ou pensões, em 2017, aumentou 115,7% em relação ao Censo de 2006. Em termos monetários, foram desembolsados quase 500 milhões de reais com essa finalidade, correspondendo a 8% do que foi obtido com as receitas de produção dos estabelecimentos. Essa ‘receita extra’, em muitos casos, constitui-se na principal fonte de renda dos produtores e seus familiares, haja vista que o valor de produção anual de 29% dos estabelecimentos é inferior a R$ 10.000,00.
Jovem no campo
Diante disso, uma questão que se coloca é: por que os jovens não permanecem na propriedade rural? Estudiosos do assunto apontam, dentre outros motivos, o deslocamento para os centros urbanos na busca de melhores oportunidades, tanto econômicas quanto sociais; a falta de políticas públicas voltadas especificamente para esses jovens; o despreparo para assumir as funções de gestão do empreendimento rural; a partilha desigual dos rendimentos obtidos no campo, que, como vimos antes, muitas vezes é insuficiente até mesmo para o sustento da família.
A permanência desses jovens no meio rural depende, sobretudo, da sua capacitação para atuar como agentes de mudança, introduzindo novas tecnologias de produção que permitam a sustentabilidade da propriedade e da família, daí a importância da educação formal e de cursos de qualificação continuados.
Nesse contexto, o acesso aos meios de produção, principalmente crédito, é imprescindível. Atualmente existem linhas de crédito voltadas para esse público, como é o caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Jovem (Pronaf Jovem), financiamento para agricultores e produtores rurais familiares, para investimento nas atividades de produção, direcionado a jovens entre 16 e 29 anos. Tem como objetivo facilitar o acesso e oferecer vantagens para que esses jovens financiem suas atividades produtivas.
Calixto Rosa Neto é mestre em Administração, com foco em Mercadologia e Administração Estratégica. Atua como analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Rondônia desde 1983.
Renata Silva é graduada em Comunicação Social – Jornalismo, com especialização em Comunicação e Marketing. Atua na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Rondônia desde 2011.