Integração lavoura-pecuária-floresta: sustentabilidade, por José Otavio Menten

Publicado em 04/04/2018 11:42
José Otavio Menten, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorado em Manejo de Pragas e Biotecnologia e Professor Associado da ESALQ/USP; e Ticyana Banzato, engenheira agrônoma e doutoranda na ESALQ/USP.

O mundo busca a sustentabilidade, ou seja, o uso dos recursos naturais de maneira adequada, para não prejudicar as próximas gerações. Na agricultura, a sustentabilidade acontece quando uma determinada área se mantem produtiva “para sempre”, e visando o aumento constante do rendimento na mesma porção de terra. 

Apesar de ser um grande desafio manter os agroecossistemas sustentáveis, é possível, mesmo estes sendo ambientes menos diversificados e mais frágeis. E isto tem acontecido: há 25 anos uma área que produzia uma tonelada por hectare (t/ha) de grãos, atualmente produz cerca de quatro t/ha. Podemos concluir que o aumento de produção é consequência, principalmente, da maior produtividade e não de expansão de área cultivada. Para isto, há a necessidade de incorporar nos processos produtivos todo o conhecimento e tecnologia disponível, desenvolvidos pela pesquisa. Assim, não há necessidade de expandir a área com agricultura, havendo menos pressão nas áreas com vegetação nativa.

Uma das tecnologias desenvolvidas para que se aumente a sustentabilidade da agricultura é a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que vem sendo implantada pelos produtores e obtendo bastante sucesso e destaque nas mídias, devido aos excelentes resultados que vem alcançando no campo.

Trata-se de uma estratégia que reduz alguns aspectos negativos das monoculturas. Numa mesma área são produzidos, em conjunto ou em sequência, cultivos anuais, semiperenes ou perenes, animais e florestas plantadas. São classificados como lavoura-pecuária (ILP), lavoura-floresta (ILF), pecuária-floresta (IPF) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Podem ser adotados em qualquer região ou clima, por pequenos, médios e grandes produtores.

A ILPF é benéfica em aspectos econômicos (maior renda líquida, diversos produtos, redução de riscos, estabilidade econômica), ambientais (ciclagem nutrientes do solo, maior biodiversidade, conservação do solo, maior eficiência na utilização dos recursos naturais, menos pressão sobre vegetação nativa, mitigação das emissões de gases de efeito estufa/CO2) e sociais (redução da sazonalidade do uso de mão de obra e êxodo rural, geração de empregos, melhoria da imagem dos produtores rurais e do bem-estar animal). É a aplicação prática da sustentabilidade.

A produção de carnes premium é tendência no mercado e, para disponibilizar  produtos que atendam essa demanda, é necessário aderir a algumas mudanças, inclusive ações que garantam sua qualidade junto com a preservação do meio ambiente; e a ILPF  consegue conciliar essas duas exigências, uma vez que já foi comprovado que há recuperação nas pastagens degradadas e áreas desmatadas, além de aumento da produtividade da produção vegetal e animal.

No Brasil, estima-se que, na safra 2015/16, o sistema ILPF ocupou cerca de 11 milhões de ha, dos cerca de 200 milhões com atividades agropecuárias (5,5% de área), principalmente nos estados de MS, MT, RS, MG e GO. Prevalece a ILP, com 80% da área, seguido por ILPF (9%), IPF (7%) e ILF (1%).

Este sistema de produção vem aumentando nos últimos 10 anos (2005 a 2015). Esta tecnologia está incluída no Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e conta com linha de crédito exclusiva.  Passou de 1,9 milhões ha em 2005 para 11,5 milhões de ha de 2015, ou seja, aumento de mais de 500%.

Entre os pecuaristas que praticam a ILPF, a previsão é que, em 2030, cerca de 20% da área agricultável esteja sendo explorada com esse sistema. Isso ganha força por meio de incentivos dos governos estaduais, como no Mato Grosso do Sul, com o programa Terra Boa que, desde 2016, apoia os produtores que querem investir no sistema, recuperar suas pastagens degradadas e reduzir os impactos ambientais gerados pela atividade agropecuária na região. A meta do programa é recuperar, ao menos, 25% das pastagens degradadas do estado até 2021, elevando a produção de grãos, carne, cana-de-açúcar, entre outras, e reduzindo o desmatamento.

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Fonte: CCAS

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