Um olho no mercado e outro na apólice, por Júlia Guerra
Ao analisar o agronegócio no Brasil é imprescindível considerar que as commodities possuem seu preço e valor relacionados às bolsas americanas, como os índices de cada produto que acabam ditando os preços no mercado nacional e internacional. A crescente demanda no mercado brasileiro e o acúmulo na produção, somados aos impactos macroeconômico e geopolítico mundial, são importantes fatores para análise, sobretudo nos Estados Unidos com o acontecimento dos furacões Irma, Harvey e Jose.
O reflexo dos furacões no Texas e na Flórida pode ser observado com as oscilações substanciais das commodities agrícolas, em especial o algodão, que teve um aumento de preço acima de 4% na bolsa de Nova Iorque e o suco de laranja que registrou alta de, aproximadamente, 6% chegando a USD 1,448 dólar por libra-peso. De acordo com a MDA Weather Service, toda a safra de laranja da Flórida está sob risco moderado ou severo, assim como as lavouras de cana que também podem sofrer uma redução em seu potencial produtivo, sendo que a Flórida é o maior produtor de açúcar dos Estados Unidos.
No Brasil, os aumentos na produção (supersafra) e na demanda pressionaram uma queda generalizada nos preços das commoditiesagrícolas. O preço do milho brasileiro, seguindo o índice ESALQ / BM&F Bovespa, atingiu valor de R$ 28,09 por saca de 60 kg em 8 de setembro, representando um aumento de 9%. Esse avanço foi notado sobretudo no Mato Grosso (principal estado de plantio de milho), elevando as previsões para a safrinha. Contudo, os valores do trigo sofreram uma redução de 8,4%, contando com um dos níveis mais baixos dos últimos três anos.
A incerteza gerada pelas oscilações de preço nos mercados brasileiro e americano –seja por fatores de risco sistemático ou de força maior – remetem a importantes aprendizados sobre os seguros de estoque e de patrimônio para esse setor. Um exemplo praticado no mercado segurador é o de atrelar os preços de indenização de uma apólice de seguro (para estoque) às variações dos índices americanos (CBOT, Chicago) ou até mesmo fixar os valores de venda ao contrato futuro, no caso de uma indenização com venda já prevista, além de emitir a apólice em dólar. Esse conhecimento é importante para o produtor e o distribuidor não serem surpreendidos por uma queda de preços inesperada (em caso de força maior), além de estarem preparados caso ocorra uma grande perda em seus produtos armazenados, demonstrando aos investidores uma maior resiliência.
O mercado segurador e ressegurador está observando os acontecimentos nos Estados Unidos com cautela, já que o seu impacto apesar de difícil de prever, se provou capaz de afetar os indicadores de preço das commodities. Um possível aumento nas importações americanas e a falta de competitividade dos produtores de suco de laranja e algodão afetarão a balança comercial. Daí a importância de dedicar atenção à colocação dos seguros e de como as indenizações estão sendo fixadas.
Júlia Guerra é diretora de Agronegócios na JLT Brasil