Terceira safra ano: Economicamente comprometida, tecnicamente viável, por Valdir Fries

Publicado em 29/09/2017 11:17
Valdir Fries é produtor rural em Itambé/PR.

Muitos produtores rurais Paranaenses estão colhendo a TERCEIRA SAFRA neste mês de setembro, isto foi possível graças à tecnologia aplicada na genética das sementes e no lançamento de materiais precoces que vem acontecendo nos últimos anos, tanto das cultivares de soja, de milho, bem como das cultivares de trigo, hoje se consegue um terceiro cultivo no ano, em uma mesma área de terra.

Assim que implantada a unidade de obervação, editei artigo reportando a questão, e relatando alguns entraves, bem como os benefícios de se cultivar a terceira safra no ano,VIABILIZAR A TERCEIRA SAFRA, UMA QUESTÃO DE PLANEJAMENTO, ALIADO AO CLIMA E A TECNOLOGIA.  conforme você pode conferir acessando o link: https://valdirfries.wordpress.com/2017/06/25/viabilizar-a-terceira-safra-uma-questao-de-planejamento-aliado-ao-clima-e-a-tecnologia/

Pois bem, uma das ponderações que havíamos relatado em relação a terceira safra ano, seria quanto a flexibilização do inicio do período de plantio da soja, quando das condições climáticas favoráveis. E conforme tínhamos em 2016 já no inicio do mês de setembro, o que não foi possível realizar, diante da Portaria do vazio sanitário vigente na época. Motivo que levou os produtores rurais interessados a buscar a alteração da regulamentação do período do VAZIO SANITÁRIO, flexibilizando/proporcionando o inicio do plantio com antecedência para garantir uma janela de plantio melhor distribuída,  “possibilitando assim, a depender das condições climáticas de cada ano, viabilizar a implantação da terceira safra ano, em uma mesma área de terra” (conforme destaquei ao final do artigo do link acima citado).

Isto se resolveu. O Governo do Estado do Paraná, através da Agência de Defesa Sanitária do Paraná (ADAPAR), acabou alterando o período do VAZIO SANITÁRIO, e de acordo com a PORTARIA 202 de 19 de julho de 2017, o período foi adequando, permanecendo o espaço de tempo de 90 dias, entre os dias 10 de junho a 10 de setembro, que antecipa a possibilidade do inicio do plantio do soja.

Sem maiores parâmetros divulgado pela PESQUISA, neste ano safra 2016/2017, com o objetivo de avaliar a viabilidade técnica e econômica da implantação da terceira safra ano na mesma área de terra, instalamos uma UNIDADE DE OBSERVAÇÃO para fazer todo acompanhamento técnico e econômico de um terceiro cultivo, e poder tirar as próprias conclusões, dentro de um planejamento traçado ainda em junho de 2016.

Todo planejamento de plantio da terceira safra, só aconteceu e se viabilizou, porque ainda em junho de 2016, os Institutos de Meteorologia que eu acompanho, já sinalizavam as previsões climáticas, previsões antecipadas, divulgadas para o período de três meses vindouro. E nas previsões, vimos que apontavam a ocorrência de um bom volume pluviométrico para o mês de julho, final de agosto e inicio de sete 2016, motivo pelo qual nos programamos e iniciamos o plantio da soja ainda no dia 11 de setembro/2016… conforme registrado/divulgado na época – CANAL RURAL : https://www.canalrural.com.br/videos/mercado-e-cia/parana-inicia-plantio-soja-74297

RESULTADOS OBTIDO NA ÁREA ESPECIFICA: Dentro da área objeto da unidade de observação, a cultura da SOJA, embora tivéssemos condições de umidade adequada para iniciarmos o plantio ainda nos primeiros dias de setembro, respeitado o vazio sanitário (na época até 15 de setembro), só foi possível realizar o plantio no dia 11 de setembro 2016.

No decorrer de todo ciclo da lavoura da soja, o se observou, foi a baixa umidade no solo na fase de floração/formação de vagem, decorrente de 28 dias sem chuvas, o que acabou provocando perdas de produção. A produção total obtida na propriedade foi 8.480 sacas em 121 hectares. Na área em observação, a produtividade se manteve dentro da média geral, a lavoura de soja NÃO sofreu perdas devido a antecipação de plantio, ou seja obtivemos uma produtividade média de 70,08 sacas por hectare de soja por hectare, 169,6 por alqueire.  A lavoura foi colhida entre os dias 19 e 20 de janeiro/17.

A segunda safra, cultivada com o MILHO (a considerada safrinha), plantada na sequencia da colheita da lavoura de soja, foi possível realizar o plantio ainda no dia 20 de janeiro, fazendo uso de um material precoce, possibilitando ser colhido entre os dias 29 e 30 de maio. Nesta área de milho em observação, obtivemos uma produtividade de 144,5 sacas por hectare (349,69/alqueire). Produtividade alcançada, acima da média geral em relação as demais áreas da propriedade, que ao final se obteve uma produtividade de  132,6 sacas de milho por hectare (320,89 sacas por alqueire).

Na unidade de observação, a implantação do terceiro cultivo, foi planejado com a cultura de TRIGO. Plantado no dia 03 de junho, e em todo o seu ciclo, observamos diversos parâmetros. Vale destacar que no decorrer de todo ciclo da lavoura, a cultura recebeu chuvas entre os dias 4 a 8 de junho totalizando uma precipitação de  104,0 mm; Entre os dias 12 e 13 de junho, um acumulado de 22,0 mm; Dia 3 de agosto apenas 5,0 mm, e por fim as chuvas que aconteceram entre os dias 13 a 20 de agosto, num total de 179 mm acumulados… Observem que as chuvas foram mal distribuídas, ficando entre os dias 14 de junho a 13 de agosto. Um total de 60 dias, a lavoura só recebeu uma precipitação pluviométrica de 5 milímetros já no dia 3 do mês de agosto. Imagem I:

Ao observar, através da distribuição de chuvas, pode-se comprovar que a lavoura foi beneficiada na faze inicial de desenvolvimento vegetativo, porém a falta de umidade no solo na fase de frutificação/floração comprometeu a produção. Todas as chuvas que aconteceram no decorrer do mês de agosto foram tardias, mas ainda suficiente e adequada para proporcionar uma boa formação de grãos, viabilizando desta forma a operacionalização da colheita.

A produtividade do trigo obtida nesta unidade de observação foi baixa, decorrente da estiagem, colhido apenas 12 sacas por hectare (29,0 sacas por alqueire), o que podemos, num breve comparativo, observar que as contas em relação a custo de produção e receita não fecham, ou seja, nesta safra de 2017 a TERCEIRA SAFRA FOI ECONOMICAMENTE COMPROMETIDA.

Porém, desde o planejamento da implantação do terceiro plantio com a lavoura de trigo, o que buscamos com a terceira safra ano, em uma mesma área de terras, NÃO foi e Não é apenas a questão econômica com a comercialização da produção, mas SIM obter subsídios técnicos em relação aos benefícios que a lavoura pode proporcionar em termos de cobertura e manejo do solo. Imagem II:

Ao que pudemos concluir em termos de benefícios técnicos, nos permite afirmar, que a implantação de um terceiro plantio, em uma mesma área de terra, se trata de uma prática TECNICAMENTE VIÁVEL, uma vez que (neste caso), a vegetação da cultura do trigo proporcionou uma economia significativa dos gastos necessários no controle de ervas daninhas, se comparado com os gastos realizados nas áreas testemunhas onde não se realizou o cultivo do trigo, além do maior ganho que se teve, e devemos destacar, que é sem duvida nenhuma, a formação de palhada que ficou na cobertura do solo.

Num breve comparativo entre esta área cultivada com o trigo na terceira safra, e as demais áreas também cultivadas milho segunda safra, e colhido o milho ainda na primeira quinzena do mês de junho, restaram neste caso, um período em torno de 90 dias de pousio, entre a colheita do milho segunda safra, e o inicio do plantio de soja em setembro, inicio de outubro. Imagem III:

Para conseguir realizar o manejo no controle das ervas daninhas neste período de cerca de 90 dias de entre safras, (imagem III) já foram necessárias uma boa dose de glifosato, associado a mais outro complemento para o controle de ervas mais resistentes, seguido ainda de uma dessecação através de uma aplicação sequencial. Mesmo assim, resta ainda em muitos talhões, a necessidade de uma terceira aplicação de glifosato a ser realizado no pré plantio da soja (uma vez que a falta de umidade no solo esta atrasando o inicio do plantio de soja neste ano de 2017).

Seguindo em frente, em termos de economia de gastos com o manejo das ervas invasoras na entre safras, mais uma vez destacamos a importância do segundo e do terceiro plantio, principalmente quando comparado com a pequena área testemunha, onde nada se plantou no pós colheita do milho, e nada se aplicou no manejo das ervas daninhas, no sentido de controlar as invasoras que germinaram e dispersão por toda área que deixamos em pousio, conforme podemos observar na imagem IV:

(Obs: Mesmo tendo realizado o cultivo do milho segunda safra, o simples abandono, comprovamos através da imagem acima um resultado catastrófico. Um resultado que leva a contrapor queles cidadãos que de certa forma defendem e pregam a ideia para que os produtores rurais deixem uma parte de suas terras em pousio (sem plantar), para forçar uma alta de preços no mercado, vendo isto, pode mudar a ideia, ao se deparar com os custos necessários que o produtor vai ter para realizar o controle das invasoras em uma mestas circunstância).

A implantação da terceira safra, a exemplo da cultura do trigo, conforme pudemos observar, se justifica tecnicamente e ainda proporciona uma economia razoável nos gastos com controle da invasão das ervas daninhas meio a lavoura de trigo, se comparado com as demais áreas onde foi realizado duas safras.

Portanto, a denominada TERCEIRA SAFRA, É TECNICAMENTE VIÁVEL, uma vez que além da possibilidade de se obter uma certa produção, temos um ganho significativo no  manejo do solo, na formação da palhada que fica em cobertura, e ainda a econômica que se teve no controle das ervas daninhas em relação as demais áreas existentes na mesma propriedade.

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Fonte: Valdir Edemar Fries

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