Potencialidades e desafios da relação comercial entre Brasil e México, por Andréia Adami
Nos últimos anos, o Brasil tem voltado sua atenção para impulsionar seu comércio com o México, por meio de acordos que objetivam reduzir ou até extinguir tarifas de importação comuns entre os dois países. Ademais, o México também tem demonstrado interesse em aprofundar suas relações comerciais com os países do Mercosul, em especial com o Brasil. Esses esforços resultaram no Acordo de Complementação Econômica – (ACE n. 53), firmado entre o Brasil e o México em agosto de 2002, e que determinou a eliminação ou redução das tarifas entre os dois países para aproximadamente 800 produtos. Ainda em 2002, foram firmados mais dois acordos, o ACE n. 54 e ACE n. 55, estes últimos no âmbito do Mercosul.
Mais recentemente, os dois países têm avançado em novas Rodadas de Negociações para ampliar e aprofundar o ACE n. 53. A necessidade de aprofundamento de novas parcerias comerciais se tornou mais urgente para o governo mexicano diante da revogação da Parceria Transpacífico pelo governo norte-americano e ameaças de alterações no Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Desse modo, Brasil e México têm enfatizado a importância de aprofundar a relação comercial e de investimentos entre as duas maiores economias da América Latina. Em pauta, há discussões sobre acesso a mercados e regras de origem, bem como negociações sobre facilitação de comércio, serviços e investimentos, medidas sanitárias e fitossanitárias, compras governamentais, barreiras técnicas ao comércio, propriedade intelectual, coerência regulatória, política de concorrência e defesa comercial.
O comércio entre os dois países tem crescido nos últimos anos; mesmo assim, a participação das vendas brasileiras nas importações totais mexicanas representou apenas 1% em 2015, assim como as compras brasileiras de produtos mexicanos também representaram aproximadamente 1% das exportações mexicanas totais e atingiram valor de US$ 4,4 bilhões naquele ano, o que mostra que há espaço para o fortalecimento da parceria comercial entre os dois países.
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mostram também que, entre 2000 e 2016, os embarques brasileiros para o México mais que dobraram, apresentando crescimento de 128%, enquanto as importações nacionais de produtos mexicanos mais que triplicaram – o crescimento foi de 368%. O valor importado pelos Brasil com produtos mexicanos saltou de apenas US$ 754 milhões em 2000 para US$ 3,5 bilhões em 2016. Ainda, o balanço de comércio que vinha favorável ao Brasil de 2000 até 2008, tornou-se deficitário de 2008 até 2015, o que mostra que o País também é um importante parceiro comercial para os mexicanos. O México é o sétimo mercado de destino dos produtos brasileiros e os industriais respondem por 80%, aproximadamente, das vendas brasileiras para esse país, cujo item principal são os automotivos.
No entanto, ainda há uma vasta lista de produtos que poderiam ter suas tarifas reduzidas, e os do agronegócio são importantes candidatos nas negociações que ainda não entraram na pauta de compras dos produtos brasileiros pelo México.
No âmbito das exportações do agronegócio brasileiro, em 2016, dos US$ 86 bilhões da receita gerada, apenas US$ 97 milhões equivaleram às vendas para o México. Os principais produtos vendidos para esse país foram celulose, frutas e os classificados como nicho da produção vegetal, que engloba pimentas, sucos e extratos vegetais, entre outros. A preferência de comércio para produtos como soja, milho, açúcar e carnes (de aves, suínas e bovinas) é do vizinho norte-americano. Em 2015, o México gastou mais de US$ 9 bilhões com a importação de soja em grão, milho, óleo de soja, produtos de madeira, café, açúcar e carnes. Mais de 95% das importações mexicanas de soja em grão, óleo de soja e milho, além de 80% das compras de açúcar e mais de 80% das importações mexicanas de carnes tiveram como procedência os Estados Unidos.
Assim, é possível que o agravamento das relações entre os dois países que compõem o Nafta possa beneficiar o agronegócio brasileiro, que é um dos maiores ofertantes dos produtos que o México tradicionalmente adquire dos Estados Unidos. Além disso, o México é importante demandante de produtos de maior valor agregado, como madeira e celulose, frutas e carnes. O que se pode esperar também é que o tamanho do espaço que os mexicanos devem ceder ao agronegócio brasileiro vai depender de quanto, efetivamente, estremecidas ficarão suas relações comerciais com o país norte-americano, uma vez que há forte dependência comercial entre os dois países. Dados da corrente de comércio entre México e EUA mostram que, em 2015, o país norte-americano foi a principal origem das importações mexicanas, com valor de US$ 188 bilhões; por outro lado, também foi o principal destino, e as vendas do México para o país vizinho chegaram a US$ 291 bilhões naquele ano.