Na Folha: Vamos falar de Coelho? Por Ali Kamel
Marcelo Coelho comete equívocos, é ofensivo com a Globo e seus jornalistas e omisso em relação ao jornal em que escreve. Não posso me calar diante de ofensas tão graves ao jornalismo que dirijo e aos colegas com quem trabalho.
Coelho começa mentindo: "Veio da Rede Globo o noticiário que torna praticamente inviáveis as reformas liberais do seu governo [de Temer]". O noticiário não veio da Globo, mas de uma investigação da Procuradoria Geral da República. Não foi a Globo quem a noticiou em primeira mão, mas "O Globo", que apenas antecipou em 12 horas o que os brasileiros saberiam de qualquer forma na manhã seguinte.
A isso chamamos de "furo". Os princípios editoriais do Grupo Globo atestam: "As redações do Grupo Globo são absolutamente independentes uma das outras e competem entre si pelo furo". Foi o que aconteceu. A Globo foi informada pelo "O Globo" sobre o furo depois das 18h30 e só recebeu o texto às 19h20. E o divulgou porque os colegas garantiram estar seguros, sem chance de erro. E os dias provaram que isso era verdade.
Em seguida, Coelho atribui as críticas que a Globo recebeu por noticiar o fato a "uma má vontade com a Globo", "um hábito mental", cuja origem seria uma "recusa da Globo em perceber a realidade". E cita os sempre mencionados erros atribuídos à Globo, o último deles ocorrido 28 anos atrás.
Erros que a Globo reconhece parcialmente (o das Diretas) erros que refuta (Proconsult e "invenção" de Collor) e erros que admite (edição do debate de 1989). Coelho não faz menção ao que a Globo diz deles. Prefere realçar os ataques à Globo, mas omite aqueles que a própria Folha sofre, quando, justa ou injustamente, é chamada de Falha de S. Paulo por seus supostos erros. Em momentos de radicalização política, sofrem aqueles que noticiam os fatos com independência.
De todo modo, não considero ético apontar para as feridas alheias sem mencionar as próprias.
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