Boas notícias, sobem incrivelmente as produções no Brasil
Na arena política e econômica destaco algumas boas notícias, como a queda de 1% na taxa de juros, a inflação vindo para o centro da meta, alguns indicadores de confiança e endividamento apresentando melhoras, as vitoriosas concessões dos 4 aeroportos para empresas de sucesso e padrão mundial, a remoção da trava de 20% de capital internacional nas companhias aéreas que deve mudar a configuração do setor, saldo comercial crescente, aprovação definitiva da lei das terceirizações que modernizará muito as redes produtivas no Brasil e me impressiona como a questão das reformas entrou forte, com cronogramas e metas. A trabalhista parece avançar bem, e a previdenciária encontra dificuldades. O complicador do mês foi a liberação das delações da Odebrecht, que pegou parte importante de nossa classe política, expondo uma das principais mazelas do Brasil. Resta torcer para este fato não atrasar as reformas, como se fossem duas avenidas distintas: a das reformas e a dos acertos com a justiça. Ainda não temos claros os impactos, mas que o Brasil será diferente depois de 2017, não tenho dúvidas.
Tivemos neste mês o recuo de 2,8% do índice mundial de preços dos alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estando agora em 171 pontos. Mas é um índice ainda 13,4% maior que março de 2016. A queda fui puxadas pelo açúcar (10,9% em relação ao mês anterior e está no menor número desde maio de 2016) e óleos vegetais. Os cereais também caíram 1,8% e lácteos 2,3%. Já as carnes tiveram uma reação de 0,7%. Como o Real se valorizou neste período, estamos já com uma situação de igual a pior que neste mesmo período do ano passado.
No 7o levantamento da CONAB temos boas notícias. Nossa safra 2016/17 de grãos será de 227,9 milhões de toneladas. Representa 22,1% a mais que a safra anterior (geração de 41,3 milhões de toneladas adicionais). Aumentamos a área cultivada em 3%, passando pela primeira vez da marca de 60 milhões de hectares. O clima também ajudou, elevando as produtividades.
Na soja, esperamos a incrível marca de 110,2 milhões de toneladas, avindas de área 1,4% maior (33,7 milhões de hectares). Apenas em um ano nossos produtores conseguiram um aumento de 14,7 milhões de toneladas. O USDA estima nossa produção em 111 milhões de toneladas, sendo que destas, praticamente 62 milhões serão exportadas. Ainda bem que, de acordo com o USDA, os chineses precisarão de um pouco mais de soja (de 86 milhões para agora 88 milhões de toneladas, com recorde de compras em março). A boa safra no Brasil e na Argentina fez com que aumentassem a estimativa da produção mundial de 340,79 milhões de toneladas para 345,97 milhões e os estoques pulam de 82,82 milhões para 87,41 milhões. Os preços recuaram um pouco. Resta torcer que o preço não caia mais e agora esperar o desempenho da safra dos EUA, qualquer evento climático será fator altista, pois creio que aparentemente a super safra está precificada.
No milho são esperadas 91,5 milhões de toneladas (37,5% a mais, sendo 29,9 na primeira safra e 61,6 milhões na segunda). Utilizamos 17,1 milhões de hectares para produzir este milho todo (ampliação de 7,3%) e será fundamental para o setor de carnes. O USDA está mais otimista, achando que produziremos 93,5 milhões de toneladas e exportaremos 32 milhões. Também esperam produção maior na Argentina (38,5 m.t.) e com isto sobe a produção mundial, estimada antes em 1.049,24 bilhão de toneladas e revista para 1,053 bilhão. Estoques passam 220,68 milhões de toneladas para 222,98 milhões de toneladas. Tal como na soja, nossos olhos agora se voltam para a produção dos EUA. Vale ressaltar que estes dois grãos representam praticamente 90% da produção.
O algodão também ficou mais competitivo, crescendo 14,3% com uma produção de 1,47 milhão de toneladas numa área 2,6% menor. A safra mundial também deve ser ligeiramente maior, segundo o USDA, em cerca de 1%.
Outra boa notícia de março veio das exportações do agro, que chegaram a 43,5% do valor exportado pelo Brasil, num total de US$ 8,73 bilhões. Representa quase 5% a mais que março de 2016. O agro importou US$ 1,39 bilhão, deixando um saldo US$ 7,34 bilhões. A soja trouxe US$ 4,06 bilhões (46,5% de todas as exportações do agro). Somados o farelo de soja e o óleo, chega-se a US$ 4,53 bilhões, 18% a mais que março de 2016. As carnes trouxeram US$ 1,35 bilhão (15,4% do total), quase 10% acima de fevereiro, o que é um excelente número face à crise criada com a operação carne fraca. Em terceiro aparecem os produtos florestais, com US$ 884 milhões (10,1%), em quarto os produtos da cana, com US$ 770 milhões (8,8%) e em quinto o café, com US$ 509 milhões (5,8%). Estes “big five” representam quase 87% do total exportado pelo agro. Aproximadamente 53,2% das nossas exportações foram para a Ásia, sendo quase 40% para a China.
O fato positivo foi o de praticamente termos superado a crise das carnes, com um impacto menor que o esperado, pois o desastre poderia ter sido muito maior se os bloqueios tivessem continuado. Mesmo com a confusão toda, o desempenho exportador em março foi muito bom.Que fique o aprendizado para isto não se repetir mais. Chega de fogo amigo.
Passa a ser importante oportunidade ao Brasil o mercado mexicano de alimentos. É o maior comprador de milho dos EUA e pode começar a comprar mais de Brasil e Argentina. Diferentemente do Brasil que tem maior diversificação nas exportações, no caso do México 81% de suas vendas vão aos EUA e Canadá, e 53% de suas compras vem destes países, dai a preocupação com o Presidente Trump. Nosso comércio com o México já foi de US$ 10 bilhões, estando agora em US$ 7,31 bilhões. Temos chances de aumentar!
Enfim: preços da soja e do milho tiveram quedas no mês, acompanhando a bolsa e refletindo a grande produção do Brasil e Argentina e a grande expectativa com os EUA. O mês andou de lado para o agro, foram boas notícias de produção e exportação, mas não tão boas as de preços.
Desejo excelente Páscoa a todos.
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA) e desde 2006 é Professor Visitante Internacional da Universidade de Buenos Aires. Este material é um resumo mensal feito sobre assuntos nacionais e internacionais de relevância ao agro. ([email protected])