Juros nos EUA x Soja: Alta da taxa nos EUA pode elevar preços no Brasil, por Apexsim

Publicado em 02/12/2016 12:53
Os autores são Guilherme Zanin e Filipe Dawson, economistas da Apexsim

Em um mundo globalizado como o atual, onde notícias movem-se rapidamente, uma quebra ou melhora nas expectativas dos agentes do mercado pode afetar vertiginosamente as cotações no mercado financeiro. Como todo produtor rural bem sabe, uma mudança nos relatórios USDA da safra Americana, Argentina ou Brasileira afeta o resultado final da sua colheita, fazendo os preços da soja subirem ou descerem. O produtor moderno sabe que tem que ficar cada vez mais atento aos fatos que estão ocorrendo ao redor do planeta.

No último ano, um dos principais fatores que moveram o mercado financeiro foi a especulação de quando o Banco Central Norte Americano aumentaria os juros no seu país. Hoje em 0,25% a.a., esta taxa é a mínima histórica há mais de 2 anos. Em contraste, a taxa de juros brasileira (14% a.a.) demonstra que precisamos pagar muito mais para receber investimento estrangeiros. Investidores no mundo todo preferem aplicar o seu dinheiro nos Estados Unidos mesmo recebendo tão pouco, tamanha a sua credibilidade como pagador. E isto tem implicações muito grandes sobre as cotações de todas as moedas, além das commodities, pois se a expectativa lá é tão alta, imagine se eles começarem a pagar mais que os 0,25% ao ano.

Há anos existe especulações sobre quando a presidente Janet Yellen aumentaria os juros nos Estados Unidos, porém no final de 2016 o fato está para se concretizar com mais de 95% de certeza. O que muitos produtores nos perguntam agora é: Qual o impacto da variação dos juros americanos nos preços do dólar e da soja?

Para responder esta pergunta, nosso grupo de economistas decidiu realizar algumas análises financeiras. Todos os estudos foram verificados através de testes econométricos, como Engle-Granger, que analisam a causalidade dos impactos e quais ativos possuem precedência temporal. O período analisado foi entre janeiro de 2009 e junho de 2016 e as cotações são da soja CEPEA-Esalq (Porto de Paranaguá), Chicago, dólar US$/BR$ e juros futuros americanos de 1 ano (T bonds 1 Year).

Incialmente, é possível verificar uma correlação positiva de grande importância entre os juros americanos de 1 ano e a variação da moeda brasileira R$/U$. Como é de se esperar, se os juros lá aumentam, a nossa moeda fica menos atraente e os preços sobem. 

Como o produtor bem sabe, uma valorização da moeda americana é benéfica também para os preços das commodities. Este é um importante indicador de inflação, e como todo brasileiro sabe, o aumento dos preços tende a valorizar dos alimentos básicos. Graficamente fica evidente a correlação positivamente entre a alta do dólar nos últimos 5 anos e o aumento de preços da soja.

Além do mais, sendo o Brasil um dos grandes produtores mundiais de soja, é notória a paridade dos preços locais com o mercado internacional. Ao longo dos últimos 7 anos, os preços da soja Paranaguá e Chicago oscilaram paralelamente, sendo a alta recente do dólar/R$ um importante fator para o aumento do spread entre os mercados. Esta é uma implicação importante, pois um aumento das moedas, que não seja a americana, faz a soja americana mais barata e a soja internacional (Brasil/Argentina) mais cara.  Esta correlação negativa entre commodities soja Chicago e juros americanos tenderia a pressionar os preços de lá durante a elevação de juros do Federal Reserve.

Para resumir ao produtor: um aumento de juros (1 Year Bonds) nos Estados Unido tende a diminuir os preços da soja em Chicago, porém, também faz o dólar ficar mais forte e a soja Brasileira também, aumentando o diferencial de preço entre os mercados. 

Conforme visualizado nos gráficos, seria razoável então supor que:

1 - Se os juros americanos subirem na próxima reunião do FED, o dólar aqui irá subir, correto?

2 - Se o dólar aqui valorizar, os preços da soja no Brasil irão subir também, certo?

3 - Porém, se o dólar subir em relação a outras moedas, os preços da soja em Chicago caem e consequentemente seguram os preços no Brasil devido ao aumento do spread, ok?

Estas correlações positivas entre juros americanos e dólar/R$ e negativas entre juros e soja Chicago podem ser quantificadas através de regressões econométricas. Com isto, podemos calcular o diferencial entre os impactos no preço da soja local e saber se um aumento dos juros americanos aumenta ou diminuiu os preços da soja local.

Realizando uma regressão entre Bonds de 1 ano, soja Chicago e Dólar Real, pode-se verificar graficamente a relação positiva e negativa entre os indicadores. A regressões exponencial ajustou-se ao grande grupo de retornos dos últimos anos, visto que os juros futuros americanos se mantiveram baixo por um longo período.

Pode-se visualizar que juros baixos nos Estados Unidos mantêm os preços da soja em Chicago em alta. Porém, se eles começarem a subir, os preços tendem a cair gradativamente, não muito longe da média. Já quando os juros lá estão baixos, a moeda brasileira ganha valor em relação ao dólar. Entretanto, um aumento dos juros faz a moeda brasileira se desvalorizar significativamente.

Nota-se  que a amplitude dos retornos do R$/US$ são muito superiores à tendência exponencial quando os juros aumentam, o que demonstra que uma variação no câmbio seria muito mais sentida pela moeda brasileira do que uma variação na soja CBOT. Isto entre em consonância com a teoria econômica, visto que a commodity possuí demanda menos elástica (menos susceptível à oscilações de demanda) a fatores exógenos (externos) devido a utilidade fixa. Já uma variação nos juros tende a impactar mais que unitariamente em ativos cambiais, principalmente a moeda brasileira, fazendo-a se valorizar.

A conclusão que o produtor pode esperar é que um aumento dos juros americanos (Bonds 1 Year) tende a aumentar os preços do dólar no Brasil. Além disso, a correlação entre a soja brasileira e o dólar teria por consequência uma grande valorização dos dois indicadores. Entretanto, o aumento do FED irá tornar a soja de Chicago mais barata que a soja Brasileira, aumentando o diferencial e segurando o preço. Este diferencial, apesar ser negativo para soja local, possui um impacto menor que a variação cambial positiva, sendo esta muito mais dispersa. Nossa expectativa é que vista a resiliência dos preços internacionais aliada ao grande aumento do dólar/R$ irão valorizar significativamente os preços da soja no Brasil.

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Fonte: Apexsim

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