Commodities ignoram firmeza do dólar americano, por Rodrigo Costa
Os mercados acionários das duas principais regiões do planeta tiveram performances distintas, com as bolsas europeias encerrando em alta e as americanas em baixa na semana que se encerrou.
Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, pouco falou em seu discurso após a entidade ter mantido os juros inalterados e o mesmo volume de compras de títulos. As insistentes perguntas sobre a continuidade do programa após março de 2017 tiveram como resposta a “promessa” de reavaliação das condições econômicas em Dezembro.
Nos Estados Unidos o candidato Donald Trump parece ter enterrado suas chances de chegar à presidência, mas como a divulgação de resultados das empresas tem sido mistas e as apostas de um aumento nos juros crescem, o S&P500 e o Dow Jones caíram 1.29% e 0.90%, respectivamente.
Curioso mesmo foi a desempenho das commodities. Até poucas semanas atrás muitos investidores apostavam na queda das matérias-primas toda vez que o dólar americano firmava, e na alta das commodities quando o Índice do Dólar enfraquecia. Do dia 7 de outubro até o dia 21 o DXY subiu 2.11% e durante o mesmo período o CRB e o BCOM subiram pouco mais de 0.5% e o SPGCSI ganhou 1.07%.
O café em Nova Iorque e Londres foram os produtos que mais subiram desde meu último comentário, ainda que o último não componha as três cestas mencionadas no parágrafo anterior. O robusta acumula alta de 6.11%, ou US$ 124.00 por tonelada e o arábica ganhos de 5.47%, ou US$ 8.10 centavos por libra-peso. A firmeza do Real Brasileiro, que negociou no mais forte patamar desde 11 de agosto de 2015 parece ter sido o ponto fundamental mais forte. O contrato “C” também se beneficia das altas consecutivas do mercado londrino que negocia a preços que não se viam desde 17 de outubro de 2014.
Os produtores tem sido vendedores no terminal, mas em volume mais brando, seja pela continuação do movimento que naturalmente provoca uma retração no nível de ofertas ou em função do atraso na chegada da colheita de Colômbia e Vietnã. Os diferenciais dos cafés vietnamitas mesmo assim enfraqueceram e devem continuar nesta tendência caso Londres não ceda violentamente.
As chuvas no Brasil foram erráticas nos últimos dias, entretanto de acordo com meteorologistas devem voltar com boa intensidade a partir da próxima semana e durante o começo de novembro. Alguns participantes do mercado brasileiro relataram a surpresa das floradas que aconteceram até agora, prematuramente crendo que pode suavizar a queda da produção no ciclo de 17/18. A cautela com o conilon continua, até mesmo porque os preços da variedade ultrapassaram os R$ 500.00 por saca no mercado doméstico, acima inclusive dos arábicas “menos nobres”.
A demanda pela indústria de café brasileira parece longe de ser resolvida pela disponibilidade menor do conilon. Neste contexto é bom notar que o efeito “altista” é maior para o contrato Nova Iorquino, dado que o segundo maior país consumidor do mundo não pode importar café. Os torrefadores internacionais continuam apenas beliscando, não mostrando grandes preocupações com a valorização das bolsas.
Os certificados da ICE aumentaram em 9,837 sacas nesta semana, nada demais, mas uma sinalização de que uma manutenção da alta do terminal deve atrair mais cafés com a paridade de entrega se ajustando. Como informação os certificados no ano caíram 450,792 sacas.
Os estoques da European Coffee Federation cederam 205 mil sacas, totalizando 11.95 m ilhões de sacas em agosto – há um ano havia 12 milhões de sacas nos armazéns dos portos reportados. Nos Estados Unidos os estoques, certificados e não-certificados, aumentaram apenas 913 sacas em setembro para 6.2 milhões de sacas.
A revisão das exportações brasileiras pela CECAFÉ no mês de agosto para 3 milhões de sacas e a divulgação dos 2.5 milhões de embarques em setembro, assim como a chegada das safras novas dos cafés suaves e dos asiáticos vão reverter no curto e médio prazo a utilização dos estoques no destino. O comportamento dos produtores brasileiros de venda pode dar uma ajuda para os países produtores da América latina que precisam vender os cafés que estão colhendo. Resta saber se a atitude muda com a abertura de novas floradas, a continuação das chuvas e a fixação das flores.
A “roda de opções” do contrato do robusta acompanhou nos últimos dias um volume de compra decalls (opção de compras) de quase quinze mil contratos, termômetro que nos mostra uma maioria ainda altista. A estrutura daquele mercado, leia-se os spreads, ficou flat a partir do contrato de janeiro de 2017 até novembro de 2017, ou seja os preços estão nos mesmos níveis.
O arábica viu os fundos comprarem oito mil lotes de futuros até terça-feira dia 18 de outubro, posição que deve estar ligeiramente menor e não deve sofrer uma diminuição grande se o contrato de dezembro de Nova Iorque se mantiver acima de US$ 153.15 centavos por libra. A trajetória do Real Brasileiro é uma boa bússola para indicar a direção do terminal, pois por ora a compra de commodities pelos fundos está ignorando a valorização do Índice do Dólar. Ao menos por ora...
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa
Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting