Sem pacificação não vamos a lugar nenhum, por José Zeferino Pedrozo
O recém-encerrado processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, agora em caráter permanente, exige uma avaliação isenta e escoimada de apegos ideológicos. De um lado, é necessário reconhecer que as instituições republicanas revelaram-se suficientemente fortes e maduras para cumprir rigorosamente os preceitos constitucionais e o rito definido pelo Superior Tribunal Federal.
Apesar disso, cidadãos engajados nos partidos políticos a favor ou contra o impeachment levarão décadas discutindo essa matéria, mantendo férreas posições doutrinárias – uns considerando o episódio um golpe, outros aceitando a plena normalidade do estado de direito.
Nesse período pós-impeachment, mesmo que perdurem manifestações públicas nas ruas, ações na Suprema Corte e a pregação do golpe e não-golpe, é urgente iniciar um esforço de pacificação. Obviamente não estamos em luta armada, mas, não é exagero falar em pacificação porque a exacerbação pode chegar a níveis perigosos.
O caminho é acreditar nas instituições e renovar a fé no regime democrático. Levamos séculos para concluir que, embora imperfeita, a democracia ainda é o melhor caminho por basear-se nos princípios da soberania popular e da distribuição equitativa do poder, na liberdade do ato eleitoral, na divisão dos poderes e no controle da autoridade.
Nesse estágio é necessário desarmar os ânimos, abandonar o radicalismo das posições ideológicas e estender uma ponte para o diálogo com o objetivo de manter a normalidade institucional. Não colherão paz nem harmonia aqueles que, agora, apostam no confronto, na violência, na desordem, na disseminação do medo e na pregação do caos.
Nunca antes foi tão essencial o bordão do pavilhão nacional – Ordem e Progresso – como nessa fase particularmente sensível da história brasileira para a retomada da normalidade da vida brasileira. Precisamos de paz para restituir a fé no futuro, a confiança no mercado, a coragem de iniciar as reformas, a ousadia de empreender e a vontade de acertar.
O País tem pressa. Perdemos muito tempo com essa crise. Grande parcela dos avanços sociais dos últimos anos foi impiedosamente neutralizada pela presente crise econômica e política. Necessitamos barrar o rolo compressor dessa conjuntura e iniciar um gradual e incessante processo de retomada do crescimento.
Tudo isso inicia com a pacificação que deve dominar a mente e os corações de todos, especialmente daqueles que detém algum nível de liderança. O primeiro compromisso do líder é com a paz, a justiça e o futuro.