O Planejamento e os Latifúndios de Subsistência, por por Roberto Gregori Jr.
Prossigo com o artigo publicado anteriormente sobre as propriedades rurais sem a devida gestão econômica e financeira, especialmente as focadas na produção de commodities, que nomino de “Latifúndios de Subsistência”.
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Segundo artigo de Mauro Zafalon na Folha de São Paulo, o Brasil terá uma participação ainda mais importante no mercado internacional do agronegócio em 10 anos, com a soja e o frango anotando respectivamente 47% e 45% das exportações mundiais. Este aumento demandará empresas agrícolas ainda mais fortes e saudáveis economicamente.
A declaração mais ouvida dos produtores agrícolas familiares com grandes extensões de terras diz respeito à impossibilidade de planejar a sua atividade para a safra seguinte, em função dos vários riscos e parâmetros envolvidos.
Entretanto, a justificativa apresentada acima é exatamente o principal argumento para que estes projetem a sua atividade econômica para os próximos 5 a 10 anos, com revisões anuais.
Da mesma maneira que temos estrategistas militares para situações de guerra sob as mais adversas condições, assim devem se comportar os agricultores no planejamento e controle de sua empresa. Afinal a agricultura é uma atividade de alto risco.
Para este planejamento, deve-se primeiro realizar um levantamento da situação financeira da empresa, seus compromissos financeiros elencados para os próximos anos, o endividamento, o fluxo de caixa, a receita esperada, a margem de contribuição e seu lucro líquido.
Projete-se então três cenários de orçamento a longo prazo: um pessimista, um realista e um otimista. No realista temos como base a produtividade e os preços em um ano considerado normal para a região. No pessimista simulam-se variações negativas de preços e/ou produtividade e no otimista estão os melhores índices conseguidos excepcionalmente nos anos anteriores.
Temos visto também que os agricultores, quando fazem projeções econômicas sem acompanhamento especializado, tendem a lançar grandes receitas futuras, aliadas a alta produtividade e a custos muitos baixos. Esquecem também de projetar o custo dos financiamentos tomados, cujos juros suprimem muitas vezes todo o caixa disponível.
Com isso, os produtores criam a falsa impressão de que tudo está correndo bem em sua atividade, mas sabemos que esta ilusão pode se transformar rapidamente em uma situação dramática, caso um crédito seja negado por alta alavancagem ou por não haver mais ativos disponíveis para se oferecer como garantia.
A nossa recomendação é simples: como estes latifúndios de subsistência não possuem ainda um corpo técnico financeiro estruturado, devem fazer a contratação temporária de um profissional ou uma empresa experiente, que audite a sua situação econômica atual e auxilie na elaboração destes cenários econômicos. Temos visto que, quanto antes o produtor rural souber de sua real situação, maiores são as chances de que sua empresa possa ser reestruturada e salva de uma possível falência.
O custo desta consultoria depende do tamanho e do estado organizacional da empresa, mas se situa a partir de 700 sacas de soja num primeiro ano. Um valor insignificante comparado aos benefícios oferecidos para que o agricultor se transforme em um empresário rural e garanta a perpetuidade de sua atividade.