Brasil o vilão do preço baixo do café, por Armando Matielli
As estatísticas dos preços das commodities mostram que no ano de 2015 o café foi o produto agrícola de maior desvalorização. Isso demonstra nitidamente a nossa política leniente e amadora na condução dos preços do café.
O próprio Globo Rural, de domingo passado (02/01/16), apresentou um estudo e o café ficou em primeiro lugar no ranking da queda dos preços. Essa situação é um contra senso perante as produções dos últimos anos e, estamos perdendo a grande oportunidade de capitalizar o setor.
Ficamos intrigados quando ouvimos que precisamos exportar o máximo para não perdermos Mark-Share (participação de mercado). Essa retórica é enganadora e ficamos abismados quando representantes do setor produtivo, como alguns presidentes de grandes cooperativas, utilizam esse argumento. A explicação para essas informações infundadas está diretamente relacionada ao desconhecimento do Agronegócio café ou o propósito da continuidade da exploração dos cafeicultores. Somos o maior produtor mundial e praticamente, dominamos o mercado de café Natural. Dos 19 países que compõe a bolsa de Nova York são produtores de café lavado. O consumo mundial de café necessita preemente do café Natural Brasileiro, pois, não conseguem uma bebida de qualidade sem o nosso café natural.
Partindo as premissas: 1) Somos os maiores produtores; 2) O mercado depende do Natural brasileiro; 3) Somos o único setor do agronegócio que possui um fundo que é o FUNCAFÉ, para regulagem do fluxo; 4)Que possuímos uma das melhores logísticas de produção e produtividade do mundo; 5)Detemos um potencial capaz de dobrar a produção e ficarmos, praticamente os detentores desse Agronegócio; 6) O café Natural Brasileiro tem durabilidade de estocagem por anos à fio ao contrário do café lavado que é extremamente vulnerável perdendo as qualidades organolépticas.
Com esse conjunto de fatores somos os piores condutores de política de preço de café. Dado a isso, as concorrentes, outros países produtores, nos detestam em decorrência ao baixo preço praticado num verdadeiro dumping mercadológico.
Tínhamos no final de 2014 um preço ao redor de U$2,20 a U$2,30 / libra peso e hoje, na faixa de U$1,20/libra peso. Vejam o total desperdício e amadorismo e, do corporativismo do setor comercial, inclusive, de algumas cooperativas, que ao invés de defender os cafeicultores, são protagonistas veemente de baixos preços. Não ocorreram fatores para a queda do preço em libra peso, pois, temos quedas marcantes na produção, consumo mundial crescente, queda de produção em diversos países em decorrência a ferrugem entre outros. Porque isso ocorreu?
- Falta de planejamento estratégico;
- Política imediatista;
- Desconhecimento do mercado mundial;
- Um possível “cafelão” como mensalão e petrolão;
- Falta de patriotismo e humanidade;
- Poderíamos ter mantidos os preços, tranquilamente, nos níveis do final de 2014 e, hoje, estaríamos vendendo café na faixa de R$ 1.000,00 / saca. Exportamos ao redor de 36 milhões de sacas e perdemos 4,5 bilhões de dólares/ano. Inacreditável! Quanta Incompetência!
Onde está o CNC? Onde está o CNA? Onde está o patriotismo? Onde está o profissionalismo?
Por outro lado, no decorrer dos últimos tempos, estamos fazendo um verdadeiro “guarda-chuvas” para o aumento da produção, do Vietnã, por exemplo, que era país insignificante no contexto, passou a ser o segundo maior produtor de café do mundo, produzindo robusta. O Brasil deu esse espaço e fortaleceu o concorrente. Uma tristeza!
Poderíamos estar produzindo 60 milhões de sacas de Arábica e, logicamente, o mundo cafeeiro optaria para o consumo do nosso café. Seriamos os protagonistas e ponto!! Ao invés disso, estamos encolhendo e vivendo o imediatismo explorando o setor produtivo. Pensem senhores!! O Quanto somos amadores!!! Como visionários e empreendedores somos ridículos.
Há necessidade, URGENTE, de guinarmos a política cafeeira extirpando essa liderança exploradora e antipatriótica.
Aqui cabe espaço para a nossa luta que persistirá através da SINCAL.