Medo de incerteza caso Dilma seja impedida é infundado

Publicado em 12/08/2015 15:34
Elite empresarial teme mudanças incertas no jogo político caso ocorra o impeachment, mas risco muito maior é ela continuar até 2018 no poder

Já apresentei meus argumentos em defesa da saída de Dilma do governo, rebatendo pontos de vista legítimos, como aqueles que temem um Lula na oposição para 2018 e o custo do ajuste no colo de outro partido, e também os nem tão legítimos assim, como aqueles que simulam um medo terrível do que poderia vir no lugar do PT, como se algo pudesse ser pior (talvez o PSOL, o PT de ontem, mas não tem chance – ainda, e o que essa turma insinua é o contrário, um governo, ó céus!, de direita).

O Brasil é curioso: tem até banqueiro que defende o PT por temer mudanças incertas. Mas não mudar é, sem dúvida, o maior risco de todos. Duas colunas de hoje argumentam na mesma linha. A primeira do economista Rogerio Werneck, meu ex-professor da PUC, publicada no GLOBO. A segunda do jornalista Reinaldo Azevedo, na Folha. Werneck diz:

Por enquanto, persistem visões divergentes sobre a conveniência e a oportunidade do brusco rearranjo de forças políticas que seria deflagrado pelo impeachment. Ainda há muita incerteza sobre quais dos atores políticos relevantes sobreviverão à Operação Lava-Jato. E, também, desalento com a ingrata agenda que seria herdada pelo sucessor da presidente Dilma, enquanto, de mão beijada, o PT se livraria do imbróglio e, em boa hora, readquiriria o privilégio de ser oposição.

Mas, se a solução do impeachment ainda esbarra em tanta resistência, a preservação de Dilma no cargo também se afigura altamente problemática. É difícil entrever como a presidente conseguirá escapar do círculo vicioso que a vem arrastando para uma posição cada vez mais vulnerável.

O agravamento da crise econômica tem acentuado a fragilização da presidente. E frágil como está, o Planalto só consegue dar respaldo a uma política econômica de pouco alcance, muito aquém da que se faz necessária para superar o quadro de alta incerteza e paralisia de decisões que o país enfrenta. Persistindo essa falta de perspectiva, não há como evitar aprofundamento da crise econômica, fragilização adicional da presidente e estreitamento ainda mais severo das possibilidades de condução da política econômica.

[…]

Sobram razões para crer que o cenário de permanência de Dilma está fadado a ser dominado pelas enormes dificuldades que a presidente terá de enfrentar para conter sua fragilização política. A questão é como o país, atolado como está, numa crise econômica de grandes proporções, poderá atravessar os próximos 40 meses com um governo tão fraco.

O que o Planalto teme é que, mais dia menos dia, a elite política do país afinal se dê conta de que, comparado a esse cenário, os desdobramentos do impeachment possam se afigurar menos custosos do que por enquanto aparentam ser. E, no entanto, o Planalto não se emenda.

Como a crise não deve melhorar tão cedo, e o governo Dilma ainda resolveu retroceder em vários aspectos, adotando as mesmas medidas equivocadas de antes, parece claro que o custo de manter Dilma no poder vai aumentar, não diminuir. A cada dia que passa, aqueles que temem as incertezas após um eventual impeachment de Dilma vão perceber que as certezas de mantê-la no governo são bem mais assustadoras.

Mas, claro, isso, por si só, não é motivo para um impeachment, como diz Reinaldo Azevedo, lembrando, porém, que há motivos concretos para tanto, e que o custo de manter mais do mesmo será enorme:

Aqui e ali, as forças minoritárias do governismo, hoje majoritárias na imprensa, especialmente nas TVs, pretendem silenciar as maiorias que pedem a saída da presidente Dilma Rousseff com uma pergunta que lhes parece definidora: “Ah, é? Se ela sair, o que vem depois?” Eu também tenho uma questão: “E se ela ficar? O que vem depois?” Eis o ponto.

A primeira indagação tem múltiplas respostas a depender das circunstâncias. A segunda tem uma só: mais do mesmo, mas em queda. Caso a presidente venha a ser impichada, Michel Temer assume. Se a chapa for cassada pelo TSE –um processo longo– o chefe do Executivo será eleito diretamente ou pelo Congresso, a depender de quando se dê o duplo impedimento. Em qualquer hipótese, o custo da transição será menor do que o da conservação do nada.

[…]

E que se note: não advogo a interrupção do atual mandato apenas porque a presidente Dilma desmoraliza a candidata Dilma a cada ato e porque se mostra incapaz de elaborar uma agenda que dê ao país um mínimo de estabilidade. Por esse caminho, perde-se apenas a legitimidade –o que já é muito grave.

Ocorre que considero –coisa de que esta Folha absolutamente não está convencida, segundo li em editorial– que ela atropelou também a ordem legal e cometeu crimes de responsabilidade, no plural.

[…]

A imprensa não pode se furtar a redigir e a ler a narrativa histórica. Será que aquela que está em curso na Lava Jato, por enquanto, atribui aos devidos autores o peso real de seus atos? Será que a verdade do petrolão é compatível com a permanência de Dilma na Presidência? A resposta, que tem de ser dada na lei, é estupidamente óbvia.

Seja por razões éticas e legais, seja por questões econômicas e políticas, o fato é que o custo de insistir no status quo com Dilma e o PT no “comando” da nação é muitíssimo maior do que o de partir para uma mudança incerta após um impeachment. Não entrem nessa dos “jornalistas” a soldo do PT e de banqueiros que nunca lucraram tanto na vida, como agora com um governo de esquerda. Medo todos deveriam ter é se Dilma ficar até 2018!

Rodrigo Constantino

Propor aumento de imposto num país como o Brasil é simplesmente indecente e imoral

“Os governos nunca quebram. Por causa disso, eles quebram as nações.” (Kennet Arrow)

A sequência é conhecida: governantes populistas e irresponsáveis gastam mais do que podem, endividam seus estados ou o governo federal e, depois de quebrarem seus estados, alegam que a única saída é aumentar os impostos. Essa turma se recusa a cortar na carne, a reduzir gastos públicos, despesas desnecessárias ou defender reformas estruturais. A saída proposta é sempre e invariavelmente a mesma: avançar sobre o bolso do pagador de impostos.

Vejam o caso do Rio Grande do Sul. O estado quebrou após a gestão incompetente de Tarso Genro. E agora, o governador José Ivo Sartori resolve quebrar promessa de campanha e propor aumento de impostos. Faz isso como se estivesse contrariado, como se não houvesse alternativa, como se fosse a única medida possível para continuar pagando os servidores públicos.

“O remédio é amargo, muito amargo. Mas o estado está na UTI e momentos assim exigem verdade. Também sou contra medidas assim (aumento de impostos), também poderia dizer que tenho contrariedade. Fizemos de tudo para evitar, mas o estado vive situação de emergência e precisa do ingresso urgente de dinheiro no caixa para cumprir as obrigações mais essenciais em 2016. Este ano, infelizmente, ainda vamos conviver com muitas dificuldades, problemas muito sérios”, justificou o governador.

Fizeram de tudo para evitar uma ova! Alguém realmente acha que os estados brasileiros e o governo federal possuem estruturas enxutas, gastos responsáveis, postura austera? Piada! Temos governos perdulários, quadro inchado de servidores, privilégios, mamatas, muitas tetas alimentando muitas boquinhas. Mas mexer nisso esses governantes não querem, pois geraria a revolta dos grupos organizados de interesse. Melhor subir impostos e diluir o fardo entre todos os trabalhadores…

Nosso estado já arrecada quase 40% de tudo o que produzimos, mas acha pouco! O que entrega em troca? Ótimas estradas, hospitais modernos, segurança, escolas de primeira? Pausa para gargalhar. Mas vem crise, sai crise, e tudo que os governantes conseguem é defender mais impostos. Inclusive com o apoio de um Ph.D. de Chicago, para provar que quem tem apenas um martelo, só enxerga prego na frente.

editorial da Folha de hoje falou do PIS/Cofins, mostrando como nosso sistema tributário é “canhestro” após uma “evolução” gradual governo após governo. O jornal traça um paralelo com certas características estranhas de alguns bichos, resultado de uma evolução nem sempre favorável, e diz:

Algo semelhante se deu com nossos impostos, cujas alíquotas se esticaram com o propósito de alcançar melhor o bolso do contribuinte. Destaca-se, nesse monstrengo, o pescoção do PIS/Cofins. […] Trata-se de tributo punitivo para a produção de bens, pois incide sobre o faturamento das empresas, e não sobre o lucro. Além disso, um emaranhado de regras permite compensar determinados créditos relativos a custos acumulados pelas firmas ao longo da cadeia produtiva; muitas terminam por não reclamá-los como poderiam.

Como mais uma demonstração de fome insaciável por nossos recursos, os governadores resolveram “retaliar” o governo federal, que teria fechado um pouco a torneira. E eis como decidiram reagir: querem aumento de impostos sobre herança de imóveis. Também está em estudo, embora ainda sem decisão final, propor ao Congresso a fixação de uma alíquota mínima de 18% para o ICMS que incide sobre a venda de diesel. Bela reação: quem paga o pato é, claro, o trabalhador de classe média, como sempre.

Do lado desses governantes estão todos aqueles que vivem das tetas estatais, enquanto do outro lado estamos nós, pagadores de impostos que sustentamos a farra toda. Em sua coluna de hoje na Folha, Reinaldo Azevedo fala dessa disputa, descrevendo o que está por trás do combate ao “ajuste fiscal” daquela turma vermelha que foi às ruas nesta quinta (dia útil, para provar que não trabalham mesmo):

Pois é… Embora muitas pessoas tenham dito para si mesmas e para os outros, no domingo passado, que não podem ser obrigadas a arcar com o custo da irresponsabilidade petista, a quase todos era claro que o ajuste fiscal é necessário; que ele é a correção fatal das bobagens feitas pelo petismo. Vale dizer: não batemos panela, bumbo ou boca contra o ajuste fiscal. Mas contra Lula, o boneco inflado, e contra Dilma, a Lírica da Mandioca, que não sabe cortar gastos nevm fazer… ajuste fiscal!

Quem grita contra o que faz sentido no governo é Guilherme Boulos, o coxinha predileto das tias –”Que menino opinioso!!!”. Quem faz isso é João Pedro Stedile, o sem-terra a quem a enxada provocaria um choque anafilático. Mobilizar-se contra a correção necessária dos desmandos do Estado hipertrofiado é coisa de mamadores oficiais; de gente que depende dele para alimentar as suas taras de classe, ainda que tomadas de empréstimo, como no caso dessa dupla.

Ou por outra: quem quer Dilma fora da cadeira presidencial defende a única coisa que pode fazer algum sentido em Dilma. Os que a querem onde está a consideram uma vira-casaca, mas ela ainda é a melhor garantia do Estado-babá, que vai mantê-los alimentados com o leite de pata estatal. E aí está a esquizofrenia.

[…]

Nós, os antiesquerdistas, vencemos. Não queremos nada pra nós. Nem sinecura nem caraminguás. Só lutamos pelo triunfo da matemática. Os outros apenas imploram para viver, vencidos pela evolução da espécie.

Boulos, Stedile e companhia só querem tetas estatais, pois têm verdadeira ojeriza ao trabalho. Mas não seria tão otimista quanto Reinaldo Azevedo a ponto de decretar que tais espécies foram vendidas pela evolução. Como vimos acima, a “evolução” tem seus truques, e certas características bizarras podem se desenvolver como instrumento de sobrevivência e até prosperidade.

Num país como o Brasil, esses bichos estranhos, que nunca trabalham e só falam em nome do povo, dos pobres e dos trabalhadores enquanto mamam nas tetas estatais, não só sobreviveram como desfrutam de verbas cada vez mais polpudas. São elas que estão ameaçadas agora, com a crise causada pelo excesso de irresponsabilidade da esquerda no poder.

Mas quem está disposto a afirmar que a saída será menos privilégios para os bichos estranhos, para as cigarras “raivosas”, e não mais carga tributária para as formigas trabalhadoras? Tudo indica que o “ajuste fiscal” que tem predominado não tem nada de ajuste real, que cortaria na carne tantos gastos inúteis dos governos, e sim, uma vez mais, aumento de impostos. Chega a ser indecente e imoral falar em mais impostos num país como o nosso.

Mas ei, indecência e imoralidade é com essa turma mesmo, pois essas são suas armas de sobrevivência nessa “evolução” da espécie. Até o dia, claro, que teremos tantos parasitas para tão poucos hospedeiros que o organismo como um todo acusará o golpe fatal, levando junto os próprios parasitas…

Rodrigo Constantino

 

Governo Dilma não aprendeu nada: pacote usa bancos públicos para ajudar indústria

Joaquim Levy cada vez decepciona mais os "neoliberais"

Por acaso o tema da minha aula do curso “Bases da Economia” nesta terça foi sobre o mercado de trabalho e o desemprego. Expliquei o funcionamento do mercado de trabalho, o salário, as implicações do intervencionismo e como salvar empregos ineficientes prejudica os próprios trabalhadores e a sociedade como um todo. Não poderia ser um tema mais atual, já que o governo acaba de anunciar que vai, uma vez mais, usar bancos públicos para ajudar a indústria em crise:

O anúncio da presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, nesta terça-feira, de que reduzirá os juros de linhas de crédito para o setor automotivo como forma de estimular o emprego no setor, mostra que o governo persiste nos mesmos erros. Ainda que a orientação da política econômica tenha dado uma guinada necessária em direção à ortodoxia, a medida sugere que há restos apodrecidos da ‘nova matriz econômica’ que ainda não foram completamente extirpados. Miriam Belchior atribuiu a Dilma a autoria do projeto que prevê o uso da Caixa e do Banco do Brasil para replicar a mesma política de redução de juros a outros setores, como o de celulose, o da construção civil e o de eletroeletrônicos. Com apenas uma tacada, o governo comete equívoco duplo: se compromete a dar estímulos num momento de escassez de recursos públicos – e sem que o ajuste fiscal prometido desde o começo do ano tenha sido concluído – e volta a selecionar setores específicos como alvo das benesses, criando bolsões artificiais protegidos contra a crise.

A medida se assemelha à que foi anunciada em 2012, quando o governo forçou a redução dos juros bancários ao consumidor por meio da Caixa e do Banco do Brasil, com o objetivo de atingir, indiretamente, as taxas praticadas também pelos bancos privados. À época, a Selic estava em 9% ao ano e a presidente não se acanhava em dizer publicamente para onde queria que caminhassem os juros básicos – movimento periogoso tendo em vista que as decisões do BC são, em teoria, técnicas, não políticas. Neste período, rompeu-se, entre outras coisas, a confiança do mercado na independência do Banco Central – confiança que não se recompôs mesmo com a sequência de aumentos na taxa de juros que já se estende por mais de um ano, na tentativa de conter o avanço da inflação.

O setor automotivo talvez seja um dos que mais contam com a “proteção” do governo. No entanto, eis o resultado: crise atrás de crise. Não seria o caso de deixar o setor funcionar mais livremente? Até quando o argumento da “indústria infante” será usado para impedir a livre concorrência que beneficiaria todos os consumidores?

O exemplo citado na aula foi comparar Detroit com o Vale do Silício. Detroit era o centro automotivo americano, e foi governada pelos Democratas de esquerda por décadas. Faliu. Parece uma cidade fantasma. Por quê? Porque não tentou se adaptar à realidade econômica, preferindo a “proteção” estatal aos novos concorrentes asiáticos. Já o Vale do Silício tem dinamismo impressionante, flexibilidade trabalhista, “destruição criadora” típica do capitalismo. Quem será que está pior?

Eis o que o governo Dilma está fazendo: usando recursos públicos escassos, em tempo de “ajuste fiscal” necessário, para subsidiar setores ineficientes. É análogo ao perdedor que pega cada vez mais crédito na esperança tola de que a sorte, finalmente, irá virar, e continua apostando no cavalo errado. No mercado financeiro, aprendemos a importância vital do conceito do “stop loss”, ou seja, parar de cavar mais fundo quando estiver num buraco.

O que o governo vai conseguir, com tais medidas, é piorar as contas públicas, o balanço dos bancos estatais, e dar sobrevida a empregos que deveriam partir para outras atividades, adaptar-se, já que não é mais realista esperar o velho patamar de produção de automóveis. A crise é como a ressaca após a bebedeira, àquela farra irresponsável. Postergar o sofrimento com mais bebida é pedir por uma ressaca maior à frente, quiçá uma cirrose fatal.

E tal erro primário cometido durante a gestão de Joaquim Levy, o “neoliberal” com Ph.D. em Chicago! Reinaldo Azevedo já resumiu bem: temos um pouco de “manteguismo” na gestão de Levy, um ato desesperado de um governo sem credibilidade. Levy não para de decepcionar os “neoliberais”, ao se mostrar cada vez mais intervencionista, além de obcecado com mais arrecadação tributária, num país cuja carga já chega a quase 40% do PIB!

Os bancos públicos estão em situação preocupante e ajudaram a fomentar a bolha que agora estourou justamente porque foram politizados. A indústria, especialmente a automotiva, está em frangalhos porque o governo não fez o dever de casa nas reformas estruturais para reduzir o Custo Brasil e preferiu criar vários privilégios via protecionismo. Dilma prova que nada aprendeu com seus erros passados. Levy prova que tudo esqueceu de suas aulas em Chicago, casa de Milton Friedman. É uma combinação explosiva!

Rodrigo Constantino


 

Desencantei-me com a esquerda! E agora?!

Por Flavio Morgenstern, publicado no Instituto Liberal

Palma, palma, não priemos cânico! O movimento (literalmente) que mais acontece no Brasil, sobretudo nos dois últimos anos, é de pessoas se movendo da esquerda para a direita.

Mesmo com ojeriza dessa palavra: direita. Que dirá seus sub-conceitos mais específicos: liberal, conservador, libertário, reacionário. Todos palavrões no inconsciente coletivo, no imaginário social.

A esquerda era associada à justiça social, à igualdade, aos oprimidos, à democracia, ao povo e aos pobres.

A direita, vista pela esquerda, era uma pequena elite de poderosos que, sem direito, tomou o poder com mãos autoritárias e enriquecia através da exploração dos proletários (ou apenas “trabalhadores”, quando o primeiro termo ficou claramente antiquado e brega).

Bastava, então, declarar que tudo aquilo que não fosse um país governado de cabo a rabo por esquerdistas seria “de direita”.

É famoso o bordão repetido pelos remanescentes esquerdistas em pleno século XXI no Brasil: “A direita governou por 500 anos, agora deixe a gente governar”. Algo que seria hilário, não fosse a burrice tão crônica: a direita não tem nada a ver com o que a esquerda define que seja sua inimiga – e muito menos a direita apareceu no Brasil – que dirá na desastrosa ditadura militar.

Basta ver que países no mundo são de esquerda e que países são de direita – liberais ou conservadores.

Países de esquerda são Cuba, Venezuela, Coréia do Norte, Laos, a Grécia quebrada, a França do Terror, a União Soviética do Gulag, a China da ausência de liberdade. Todos ditaduras – e militares.

Países com tradição de direita (nenhum “oficialmente” instituído com a proibição de esquerdistas com poder de representação) são Suíça, Austrália, Canadá, Reino Unido (sobretudo a Inglaterra), América, Áustria, Alemanha, Israel, Japão, Coréia do Sul. Qual deles é uma ditadura? Qual deles é opressor autoritário de um povo injustiçado pela força de uma elite malvada?

Era fácil ser de esquerda no mundo bipolar da Guerra Fria, e supor a vitória de uma “social democracia” ou “Estado de bem-estar social” nos confusos termos que tentaram “ultrapassar” aquele período – e na bizarra crença esquerdista de que o Estado inchado nórdico tinha algo a ver com socialismo, e fosse “menos” capitalista do que países de Estado forte e paternalista como o Brasil, com sua cultura de politizar toda a vida.

Até que veio a consagração do PT e… veio o mensalão, veio todo o esquema econômico traduzido em “Bolsas” que logo perderam o encanto, a numerologia que cada vez mais é apartada da realidade (do “tirou 40 milhões da miséria” até os jornalistas petistas garantindo que o PT triplicou o valor do real perante o dólar), a blogosfera progressista, o plano de regular a mídia e a internet, o negacionismo psicótico da militância para admitir corrupção ou malversação, a transferência de dinheiro para ditaduras, o petrolão, o BNDES, o fracasso político com as alianças que iam de Collor, Maluf e Sarney a Feliciano, Cunha e Temer (ao contrário do que se diz, todos são ou foram da base governista), o aparelhamento de estatais que fizeram até uma petrolífera dar prejuízo, a falência econômica com o dinheiro das Bolsas acabando com a classe produtiva (e o PT com cada vez menos a “distribuir”, gerando as pedaladas fiscais para fingir que faz um bom trabalho) e, por fim, o Tico Santa Cruz.

Todos estes elementos fazem com que ser de esquerda não seja mais apenas antiquado, retrógrado, uma explicação primitiva da realidade, uma estética que se diz transgressora e é mais almofadinha e acomodada do que o Zé de Abreu, um ideário tão apartado dos reais problemas das pessoas – e sobretudo dos pobres – quanto um mangá sobre invasões alienígenas.

Fazem com que o esquerdista restante do século XXI seja o maior dos maiores bobos da corte – quando não está puxando saco de tiranias, bandidos e corruptos, está apenas sendo o paspalhão do qual todas as pessoas sérias estão a rir.

O sonho acabou? É o que dizem os artigos que pipocaram na grande e pequena mídia nessa semana. Aqui é que está a perigosíssima encruzilhada para saber se daremos um passo na melhor direção ou se ficaremos perdidos e apatetados diante das tessituras do mundo real dando opiniões a esmo como colunistas da Carta Maior.

Não, o sonho não acabou. G. K. Chesterton, um dos maiores pensadores de direita do mundo, ao explicar por que, na verdade, temorgulho de ser reacionário, explica: não são sonhos que os jovens têm, que perdem quando velhos. É mais realidade que ganham, com a experiência da vida (o pensamento “conservador” não significa conservar o mundo como está, mas pensá-lo através desta experiência). Mais velhos, somos, por definição, mais desconfiados de soluções milagrosas, dependentes de tomar o poder e controlar toda a sociedade por umas poucas mãos.

Ora, o socialismo ideal, a social-democracia ideal, o capitalismo ideal são todos maravilhosos. O problema é o real. É esta realidade que vamos adquirindo com as areias do tempo. Como as coisas reagem às nossas tentativas de moldá-las – por isto, alguns se consideram reacionários – por saberem como o mundo reagirá antes de usar a política para tentar fazer com que 2 e 2 sejam 5.

E por que demoramos tanto para vislumbrar o real? Ora, basta lembrar: a esquerda hardcore nasceu com um livro de Economia (O Capital), mas tal livro só é usado na Economia como curiosidade histórica. Onde ela floresceu mesmo foi na sociologia, na psicologia, na crítica literária, na semiótica e, recentemente, no jornalismo.

Em suma, não nas áreas técnicas, mas naquelas que lidam com o imaginário coletivo e social.

Exatamente por tal razão, a diferença entre direitistas e esquerdistas não é propriamente de argumentos (ambos querem que os pobres enriqueçam e ambos sabem que matar um inocente é errado), e sim de conceitos.

Por isso tantos recusam admitir que seu ideário, quando consubstanciado na realidade (seja o marxismo-leninismo na Coréia do Norte ou a “economia controlada pelo Estado social” do PT), dá sempre errado.

Para a esquerda, há oprimidos e opressores, e não humanos com diferentes aptidões e escolhas de vida que, exatamente por conseqüência destas, têm vidas distintas.

Enxergando o mundo nesta dualidade, sempre que alguém prospera na vida, se torna “explorador” de alguém, mesmo nunca tomando seu trabalho ou dinheiro à força, injustamente ou exageradamente.

A confusão aí não é de argumentos, mas de conceitos. Qualquer um é contra exploradores e opressores, mas a esquerda, usando o termo para pessoas normais, que trabalham e produzem riqueza, faz com que pessoas normais, embebidas apenas de fontes esquerdistas de interpretação da realidade, enxerguem mesmo um “explorador” em um empresário que gera riqueza e compartilha com funcionários e clientes por um mundo melhor – já que o blog preferido do esquerdista chama capitalistas de “exploradores”, mesmo que seja um simples pasteleiro – enquanto não enxerga exploração, por exemplo, nos impostos brasileiros – e nem mesmo na ditadura cubana, que enriquece os irmãos Castro, mantendo o povo na miséria de um salário de US$ 15/mês, em troca de “igualdade” e “educação e saúde gratuita” (mesmo sem poder ler um único livro contrário aos Castro).

Ora, esta igualdade “ideal” também parece muito boa, mas recai no mesmo problema dos outros conceitos da esquerda: tem forte carga psicológica, mas descreve pessimamente a vida concreta. O Haiti, por exemplo, é um país bem menos “desigual” do que a Suíça, mas é preferível viver num lugar onde a maioria recebe menos de 2 dólares por dia, ou num lugar em que os ricos ganham 5 milhões, e os “pobres” apenas 100 mil por mês, podendo alcançar aqueles 5 milhões trabalhando, sem o governo atrapalhando para “distribuir renda”?

São estes conceitos, abarrotados de carga psicológica, mas fracos (ou mesmo ocos) de conteúdo real, que estão na mente da esquerda, entre seus olhos e a vida palpável, que grassou tão fortemente na análise social. Tudo para ela é valorativo, e não apenas descritivo.

Basta analisar os seus termos: proletário (aquele que vive da própria prole – classe que nem mais existe no mundo civilizado), igualdade (tratada como bem em si), empoderamento (há poder maior do que ter menos política na vida?), sustentável (o mundo se sustenta melhor sem ela) ou, como Hayek, outro gênio da direita, bem observou, a capacidade de qualquer termo ganhar pompas de justo, belo e moral ao se adicionar o adjetivo “social” a ele – de contabilidade e administração até consciência, pensador, utilidade, opinião ou trabalho.

Para não dizer do uso da palavra “fascista” para tudo ­– e tudo que seja opostoao fascismo (do contrário, não ofenderia – ou tentar xingar e calar um oficial da Waffen SS de “nazista, racista, autoritário e anti-semita!” por acaso o ofenderia ou o faria se calar?).

Embebido neste elixir psicológico, o esquerdista, incluindo o mais intelectual, acredita estar observando a realidade com muito mais ciência, inteligência e bons sentimentos do que o direitista, quando não percebe que se divorcia radicalmente da objetividade e só enxerga o seu próprio palavreado.

Os estruturalistas, os pais intelectuais da esquerda contemporânea, negammesmo a realidade fora de seus cacoetes verbais. Bem dizia Nietzsche que não nos livraremos de nossos ídolos enquanto não nos livrarmos de nossa linguagem.

O esquerdista, mormente quando jovem, tendo por “conhecimento” apenas aquela burocracia acadêmica que seus professores lhe obrigam a ler, crê piamente que a direita é apenas um agrupamento de elitistas autocráticos, fanáticos religiosos asfixiantes e regressistas abafadiços que não leram Michel Foucault e Jean Paul Sartre o suficiente.

Malgrado seus preconceitos, com voz de autoridade crendo-se questionador de autoridades, e a despeito de suas referências viciosas, defendendo totalitarismos opressores que “libertaram” povos de sua própria liberdade, a direita, trabalhando o senso comum, pode tanto ser não-acadêmica (mesmo que a densa e complexa filosofia do Common Sense creia justamente na sabedoria do homem comum), como pode ser uma enciclopédia de conhecimento filosófico profundo, como é o caso de G. K. Chesterton, Eric Voegelin, Ludwig von Mises, Thomas Sowell, Ortega y Gasset, Kuehnelt-Leddihn, Russell Kirk, Roger Scruton e tantos outros.

Tal cabedal de conhecimento não consiste em autoritários malvados e ignorantes (a despeito do que repete como vitrola rachada uma pretensa filósofa petista) que desconhecem Ronald Dworkin ou György Lukács; pelo contrário: os estudam e escrevem sobre eles. Se a esquerda não faz o mesmo com a direita (mesmo estes nomes óbvios são, com raríssimas exceções, completamente desconhecidos dos universitários brasileiros), é, sim, porque ela se tornaria de direita se conhecesse a esquerda.

Portanto, “companheiro”, sei que você está assombrado com o descalabro da esquerda consubstanciada, e até costuma apelar para o clichê, que só funciona brincando com palavras, de que, se algo deu errado, “virou” de direita (assim, o PT, os black blocs, o nacional-socialismo ou mesmo Stalin são chamados “de direita” pela esquerda nacional). Mas não se preocupe: há muito o que estudar, e muito o que gostar da direita – estes dois últimos verbos, aplicados a ela, se tornam sinônimos.

Não tenha medo, porque a única desvantagem de ser de direita – ficar malvisto nas rodinhas de bem falantes e no palpitariado nacional – está deixando de existir nestes tempos em que a presidente parece amargar menos de 7% de aprovação. Agora, pode perceber que usou os conceitos errados – e acreditou que a realidade eram estes conceitos – e abraçar aquilo que sempre achou que odiava, sem saber o que era: a direita, seja liberal, conservadora ou libertária.

Pois como você pode perceber na vida real, todos passam da esquerda para a direita – portanto, chegam à direita sabendo o que é a esquerda – mas nunca o contrário. Há uma razão para isso, que os esquerdistas escondem de você.

O liberalismo ou o conservadorismo são filosofias e posições políticas às quais geralmente só se atinge depois de certa idade, experiência e estudo, enquanto a esquerda e seus cacoetes repetíveis convence os jovens e os que nunca estudaram a economia liberal, os valores conservadores. Também há razão para isto – óbvia como o common sense.

Deixar de ser de esquerda é o caminho para enxergar a realidade e deixar que ela determine nossos pensamentos, em vez de  “revolucionar” e modificá-la apenas para nosso bel-prazer.

Seja bem vindo!

 

Austeridade é um dogma? Ou: Não há saída sem forte ajuste fiscal

“Os governos nunca quebram. Por causa disso, eles quebram as nações.” (Kennet Arrow)

O grande truque dos intervencionistas sempre foi a criação de abstrações coletivas. Quem pode ser contra o “povo”? Quem pode se colocar contrário ao “interesse nacional”? E foi assim que inventaram a ideia maluca de que um estado é mais do que a soma das partes, e que não precisa, portanto, seguir as mesmas leis econômicas. O que vale para uma família ou para um indivíduo não vale para o estado. Quem diz o contrário é um “dogmático” e um “simplista”, que ignora a complexidade do estado. E ponto. Não precisa esclarecer melhor a coisa. Fica por isso mesmo.

Um artigo do sociólogo Antonio Engelke publicado hoje no GLOBO mostra bem essa mentalidade. Ele rejeita justamente a premissa de que o estado deve se adequar às mesmas leis econômicas que uma família, combatendo, com isso, o “dogma” da austeridade e usando, para ter respaldo de especialistas, os economistas Joseph Stiglitz e Paul Krugman, que envergonham muitos da categoria por terem Prêmio Nobel, mas agirem como militantes partidários. Eis a linha de “argumentação” do sociólogo:

Se uma família gasta mais do que arrecada, terá que pedir empréstimos, contrair dívidas ou vender bens. Esta é uma verdade óbvia, que assinala uma situação insustentável. E é justamente por ser uma verdade óbvia que a analogia parece fazer sentido: como poderia um Estado manter-se saudável, cumprir satisfatoriamente com suas obrigações, se seus gastos superam as receitas? A conta não fecha.

Analogias são comparações que nos levam a entender uma coisa nos termos de outra. A questão é saber se a comparação tem algo de verdadeiro a nos ensinar. Nesse sentido, as muitas diferenças entre economia doméstica e estatal impedem um paralelismo tão simplório. O que diferencia famílias de governos é a soberania — exatamente o que vinha sendo negado, por exemplo, à Grécia. Mas há ainda outras distinções. Lares são finitos. Nações, sendo um construto histórico e jurídico-político, são maiores que a soma das partes que a compõem. Se endividadas, famílias possuem margem de manobra bastante limitada, são praticamente obrigadas a cortar gastos. Estados podem aumentar impostos, imprimir moeda, estimular a demanda interna, rolar sua dívida a prazos mais elásticos.

Na economia doméstica, o corte de gastos não altera a receita da família. Quando o governo reduz o investimento público, a receita proveniente de impostos cai. E, ao contrário de estados, finanças caseiras não têm responsabilidade para com demanda agregada, inflação, políticas industriais, crescimento do PIB ou taxas de juros.

É uma fuga para os abstratos coletivistas, nada mais. O sociólogo acha que o estado, por ter o poder de imprimir moeda, não precisa se preocupar com seus déficits fiscais. Ele só não entende que isso produz inflação, punindo os mais pobres. Ele também acha que o poder de aumentar impostos é um diferencial. Ignora que esses impostos precisam ser pagos pelo povo trabalhador, que já entregam ao estado quase 40% de tudo que ganham.

“Demanda agregada”, eis a expressão mágica para os keynesianos. Em nome dela, o estado pode tudo, deve estimular sempre essa tal “demanda agregada”. Claro, foi justamente o que fez o governo do PT, e hoje estamos colhendo os resultados disso. Mas o sociólogo não quer saber do passado. Ele enxerga apenas uma saída para o futuro, e é sempre a mesma: mais gastos públicos para estimular a “demanda agregada”, e pro inferno com essa coisa de austeridade!

Quando Thatcher disse que não existia essa “coisa de sociedade”, apenas indivíduos, o que ela queria atacar era justamente esse coletivismo abstrato que pune os indivíduos de carne e osso. Ninguém, muito menos uma conservadora, acha que o indivíduo é uma ilha e que o coletivo não importa. O que ela quis dizer é que o coletivismo não pode se sobrepor ao indivíduo, que é exatamente o que fazem esses intervencionistas. Em nome do “estado”, eles ferram a vida dos indivíduos!

editorial do GLOBO, na página ao lado, oferece visão distinta e bem mais razoável do que essa do sociólogo coletivista. Ele lembra que a “agenda positiva” não tem valor se não insistir no ajuste fiscal. As contas públicas não devem sair do vermelho por algum fetiche de economista liberal ou algo do tipo, e sim porque representam um enorme fardo sobre os ombros dos trabalhadores e dos pobres. Ou seja, um estado perdulário não fomenta a “demanda agregada”, e sim destrói o futuro e a esperança dos brasileiros, aumentando o desemprego, a inflação e a carga tributária. Diz o jornal:

A ampla lista de 28 propostas legislativas divulgadas por Renan inclui medidas acertadas, e já conhecidas, como a reforma do ICMS, o estabelecimento de idade mínima para a aposentadoria, além de ações voltadas especificamente a melhorar o degradado ambiente de negócios do país.

Mas a tudo isso, e ainda o programa de investimentos no setor elétrico, precede algo básico: o ajuste fiscal, em fase de desmontagem na Câmara e com dificuldades de trânsito no Senado. Sem ele, nada feito.

A mudança de postura de Renan diante do governo reforça o papel institucional do Senado de Casa revisora de desatinos cometidos pela Câmara. É o que não falta nesta fase autista da maioria dos deputados.

Mas sem que o Congresso concretize o imperioso ajuste fiscal que está na pauta do país, tudo o mais será inexequível, pois o Brasil atolará indefinidamente no terreno lamacento do desemprego, da estagnação, da inflação.

Exatamente. Só acrescento que um ajuste fiscal sério, verdadeiro e positivo para a população não passa por aumento de impostos, como quer Joaquim Levy, e sim pela drástica redução dos gastos públicos. Ou seja, o Brasil necessita, urgentemente, de um estado mais enxuto e responsável, que pese menos aos trabalhadores que produzem riquezas e empregos. Austeridade não é um “dogma”, a menos que o sociólogo considere a lei da gravidade um dogma também.

Se for o caso, sugiro que pule do alto de um prédio para atestar se esse “dogma” é mesmo verdadeiro. Ele descubrirá rapidamente, com o próprio sofrimento. Quando prega o abandono da austeridade fiscal, por outro lado, quem sofre são os outros, principalmente os mais pobres.

Rodrigo Constantino

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Fonte: Rodrigo Constantino / Veja

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