O milho safrinha em SPD no médio-norte do MT

Publicado em 11/05/2015 15:20
Engenheiro agrônomo Anderson Lange, professor e pesquisador da UFMT-Sinop/MT

O cultivo logo após a soja do milho safrinha ou milho segunda safra, como tem sido chamado, é recente em escala comercial no Mato Grosso. A exploração agrícola na década de 1970 incentivou a migração de agricultores e pecuaristas, especialmente do Sul, e o cultivo da soja iniciou no estado. Na década de 1990, produziam-se menos de 500 mil toneladas de milho segunda safra, com produtividade em torno de 30 sacas/hectare, e o que limitava o cultivo em grande escala era a falta de tecnologia e preços baixos, sendo muitas vezes o cultivo utilizado para garantir palha ao sistema. No fim da década de 1990, com o crescimento da produção animal (frango e suínos), o milho passou a ter seu espa- ço e exigiu mudança no sistema produtivo e investimentos em pesquisa. E a área saltou de 300 mil hectares para 1,9 milhão de hectares na safra 2009/10, e hoje estima-se algo em torno de 3,2 milhões de hectares de milho segunda safra.

Atualmente o cultivo da soja e do milho é acompanhado de alta tecnologia e investimentos pesados. A soja semeada em outubro pode ser colhida com 90-100 dias e produtividade de 70 sacas/hectare ou mais e o milho é semeado logo após. Posteriormente colhido em junho/julho, com 130- 140 sacas/hectare, garantindo lucratividade no sistema e palhada de qualidade.

Tripé desrespeitado — Nesse cenário, o cultivo sem revolver o solo, denominado de plantio direto (PD), sistema plantio direto (SPD), sistema semeadura direta (SSD) ou plantio direto na palha (PDP), é utilizado, porém, ainda existem entraves agronômicos. Conforme aponta a literatura clássica, três requisitos agronômicos básicos devem ser mantidos para o correto funcionamento do sistema: o não revolvimento do solo, o uso de plantas de cobertura e a rotação de culturas. No MT, o “sistema” propriamente dito ainda não respeita o tripé, pois raros produtores usam plantas de cobertura e rotação de culturas e a formação da palhada ainda é dificultosa. Predomina nas áreas de sequeiro a sequência soja/milho (safra e segunda safra) e, em áreas em que a irriga- ção é utilizada, via pivô central, após a colheita do milho, o cultivo de feijão irrigado, gerando a terceira safra.

Além da sequência soja/milho, alguns produtores utilizam o feijão comum e o feijão-caupi na segunda safra no lugar do milho, como uma opção para rotação. Porém, a implantação do feijoeiro em fevereiro/março apresenta dificuldades no manejo, pois na época podem ocorrer períodos contínuos de chuva, termo conhecido como “invernada”, e o manejo fitossanitário é dificultado pela alta incidência de doenças. Atrasar a semeadura buscando fugir desse período crítico pode causar severa queda na produtividade, em fun- ção das chuvas cessarem algumas vezes na primeira ou segunda quinzena de abril, evento que pode ocorrer abruptamente (o “fecha torneira”).

O cultivo de plantas de cobertura basicamente ocorre de duas formas. Nas áreas em que se semeia o milho, esse pode ser consorciado com braquiária (ILP), espécie que veio ajudar muito o PD no MT, sendo opção de cobertura de solo ou pastejo e, nas áreas em que a colheita da soja é tardia (março), alguns produtores optam por cultivos solteiros de braquiária, crotalária, milheto ou sorgo, sendo que, no caso da braquiária, pode haver pastejo, fazendo o “boi safrinha”.

Adubo junto da semente de capim — As grandes dificuldades na região, em propriedades que normalmente têm mil, 5 mil, 10 mil e até 30 mil hectares de área cultivada, é instalar a braquiária em meio ao milho. Uma das formas mais conhecidas e estudadas é misturar a semente do capim no adubo do milho e enterrar ambos no momento da semeadura. Essa modalidade no MT esbarra em dois problemas: a dificuldade operacional de realizar a mistura adubo/capim devido ao grande volume de fertilizante (grandes áreas), e a aplicação superficial do fertilizante, que é prática comum, feita normalmente com o formulado 20-00-20 no milho, alguns dias após a emergência.

Usar o sistema para a engorda de animais coloca o proprietário e a equipe de funcionários em alerta dentro das fazendas. Produtores que rotineiramente cultivam a soja e o milho, quando ouvem falar em semear braquiária, já encontram certa dificuldade e adquirir animais, confeccionar cercas, treinar/contratar mão de obra para manejar o gado (peões) espanta o uso da tecnologia em grandes áreas. Além dessas dificuldades, hoje, no caso específico da braquiária, o controle químico em meio aos milhos transgênicos (BT e RR) restringe o uso de glifosato, o que se tornou um novo entrave.

Leia o estudo na íntegra no site da Fundação Agrisus

 

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Fonte: Fundação Agrisus

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