Para quê “escrever” os registros?, por Roberta Züge

Publicado em 06/04/2015 14:53
Roberta M. Züge é Membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS). Médica Veterinária Doutora, Ceres Qualidade Consultoria e Assessoria.

Na rotina diária de minhas atividades de consultoria, em especial no campo, sempre tenho que sensibilizar meus clientes, ou seus colaboradores, da necessidade de realizar corretamente e diariamente os registros indicados.

Muitas vezes, vemos resistência por parte de todos, ou porque não entendem a real necessidade, ou simplesmente acham que há coisas bem mais importantes, ou urgentes, a resolver. Claro, o dia a dia da produção de leite é intenso. Os registros não devem ser encarados como algo a ser feito quando sobrar tempo! Porque isto, praticamente, não existe para quem é leiteiro.

Os registros são necessários para muitos fins, vão desde questões trabalhistas, ou seja, eles são legais (obrigatórios), onde o empregador deve comprovar por meio de registros, por exemplo, a entrega dos EPIs necessários para às atividades aos seus colaboradores, até para o correto gerenciamento das atividades de manejo.

As anotações são de extrema importância quando se pretende a profissionalização do produtor. Os dados recuperados destes registros podem identificar desvios, erros e acertos. Norteando as tomadas de decisões, de forma racional e assertiva, para o incremento da produção. 

Em uma prosa com o produtor Egon Krüger, que mantém a propriedade em aderência a norma de produção integrada de leite, um dos que aguarda a publicação para certificar, ele me relatou um benefício direto dos seus registros. Foi realizada uma cirurgia de uma vaca, a qual recebeu antibioticoterapia a base de penicilina, iniciando o tratamento no dia anterior da intervenção. Ele mantem os registros de aplicação de medicamentos sempre atualizados, contendo a data de compra, numero de lote, validade, responsável pela aplicação, e outro documento, onde estão registrados todos os tratamentos dos animais, inclusive com os receituários do médico veterinário.

Como em outra ocasião o produtor já havia tido problemas de detecção de resíduos, assim, para não recorrer a este erro, ele dobrou o período de carência, de cinco para dez dias. No entanto, mesmo com este período de ampliado, o laticínio detectou, por meio do Snap Test, a presença do medicamento no leite. O que ocasionou a condenação da carga e do restante do compartimento.

Munido de todas estas informações, dos registros às prescrições veterinárias, ele comunicou o representante da empresa de medicamentos, que realizou novo teste do mesmo leite coletado pelo laticínio. Em paralelo, ele fez cópia dos registros de aplicação de medicamentos (com todos os dados) e da prescrição veterinária, e encaminhando tudo à empresa.

A indústria de medicamentos ressarciu os custos da perda do leite, assim como do período de descarte necessário. Pela clareza e evidência de rastreabilidade, do cumprimento da prescrição veterinária, que era compatível com a bula do medicamento, não houve dúvidas que o procedimento realizado era o correto, provavelmente o erro era no processamento do medicamento; o produtor não poderia arcar com este ônus. No entanto, caso ele não tivesse todos estes registros, identificando desde a prescrição correta, até a aplicação conforme o recomendado, dificilmente ele poderia recorrer e, melhor ainda, ganhar a causa.

Provavelmente, muitas outras histórias poderiam ser contadas sobre problemas como este. Erros acontecem em todos os âmbitos, mas somente com documentação, que seja de fato um lastro acessível e passível de auditoria e verificação, pode evidenciar e ter um final bem mais atraente para o cliente.

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Fonte: CCAS

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