Biotecnologia sob ameaça, por Adriana Brondani

Publicado em 19/03/2015 15:44
Adriana Brondani é doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

No dia 5 de março, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) invadiu e destruiu uma unidade da FuturaGene, empresa brasileira que desenvolve uma variedade transgênica de eucalipto há mais de 14 anos. De maneira coordenada, manifestantes da Via Campesina também interromperam a reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) na qual a aprovação comercial deste e de outros produtos seria discutida. Os protestos reivindicavam segurança alimentar e criticavam os cultivos transgênicos. Essas ações chamam atenção para a desinformação sobre os organismos geneticamente modificados (OGM). Estudo publicado em janeiro pela revista Science, também revela que há nítida diferença entre a opinião da comunidade acadêmica e da população em geral a respeito dos alimentos transgênicos. Enquanto 88% dos cientistas entendem que eles são seguros, entre leigos esse índice é de apenas 37%.

Consequentemente, é provável que a sociedade civil não saiba que as tecnologias transgênicas disponíveis no Brasil incorporam benefícios à soja, ao milho e ao algodão. Sem as características agronômicas introduzidas nas plantas, a exemplo de tolerâncias a herbicidas e resistências a insetos, o agricultor brasileiro não teria atingido altos níveis de produtividade e evitado o avanço sobre áreas de proteção ambiental.   Já o eucalipto em análise produz mais celulose, permitindo que áreas já destinadas a esse cultivo sejam poupadas.

O modelo brasileiro de avaliação da biossegurança de transgênicos é reconhecido como um dos mais completos e rigorosos do mundo. Os OGM são submetidos a testes toxicológicos, alergênicos, nutricionais e ambientais que passam pela análise da CTNBio, cuja legitimidade é baseada no caráter de excelência de seus membros. O trabalho desenvolvido por esses pesquisadores envolve altos níveis de detalhamento e a Lei de Biossegurança (11.105/05) garante à sociedade o direito de se pronunciar democraticamente. Entretanto, manifestações violentas e autoritárias devem ser repudiadas. É inaceitável que o trabalho seja prejudicado e a segurança dos cientistas ameaçada.

O Brasil está entre os países que detém um dos mais avançados conhecimentos sobre a agricultura tropical. Assim, a inovação que a biotecnologia agrega é uma evolução natural para a produção de alimentos. Os transgênicos são uma das ferramentas para melhorar a segurança alimentar, contribuindo para garantir o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. Não será possível atender às demandas de uma população crescente se não enxergarmos a multifuncionalidade da agricultura e dos sistemas produtivos. Portanto, a argumentação do protesto não está apoiada na realidade. Inegavelmente, foi o agricultor quem mais se beneficiou com os OGM.

Por essa razão, não é razoável que um movimento de trabalhadores rurais promova a destruição do trabalho de cientistas comprometidos com a busca de soluções tecnológicas para os desafios do campo. Os estudos, de curto, médio ou longo prazo e os anos de experiência acumulados na pesquisa e desenvolvimento demonstram que não há associação entre o consumo de OGM a qualquer prejuízo para a saúde humana, animal ou para o meio ambiente. Diante de tais constatações, é urgente reconhecer o criterioso trabalho conduzido pelos nossos pesquisadores e pela CTNBio e necessário intensificar as ações de comunicação sobre avanços da ciência. Dessa maneira o Brasil poderá continuar sendo pioneiro em tecnologia agrícola e assegurando seu compromisso com a sustentabilidade.

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Fonte: CIB

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