Por que vou às ruas no dia 15 de Março , por Flávio França Jr.
Prezados amigos. A parte da sociedade civil brasileira que está indignada com o atual estado de degradação política, jurídica, econômica e ética do país está se organizando para uma grande manifestação no próximo dia 15 de março. Sem a participação direta de partidos políticos ou outras entidades de classe, a população está se organizando de forma espontânea pelo país afora, para esse grande ato de protesto contra a classe política brasileira. E que promete ser um dos maiores da nossa passiva e perniciosa história. É evidente que a motivação principal está no pedido de abertura de um processo de impeachment contra a presidente. Mas entendo que o movimento de insatisfação tem um fundo muito mais amplo, contra a classe política em geral. Pelo menos o meu sentimento é esse.
Os aliados do poder dominante vão dizer que a tentativa de derrubar uma presidente eleita democraticamente é golpe. E que caso venha a ser comprovada a sua não participação na montagem da quadrilha da Petrobrás, aliás, como parece entender o pizzaiolo Janot, ops... quer dizer, o procurador Janot, não há amparo legal para o impeachment. Mas para a grande maioria da sociedade, se a presidente não ajudou o montar o esquema, se não recebeu parte dos recursos desviados, no mínimo sabia da existência do esquema, e não fez nada, nem como ministra e presidente do conselho da empresa e, muito menos, como presidente da república. Portanto, é cúmplice. E se é cúmplice, cometeu crime de comparticipação. Simples assim.
Uma pessoa muito próxima, e que ainda inocentemente apoia o governo, me perguntou há alguns dias se eu pretendia sair às ruas no dia 15 de março, e por que? Em primeiro lugar disse a ele que nunca me omiti e deixei de participar da vida política do meu país. Lembrei a ele, por exemplo, que já fui às ruas em dois outros grandes momentos da história recente do país, o movimento das Diretas Já, em 1983/84, e o Fora Collor, em 1992. Mas que não aderi às manifestações de 2013, simplesmente porque naquele momento não as entendia. Entretanto, entendo que o tempo passou, e o processo foi ficando mais claro em minha mente. E passei a enumerar os motivos principais (há muitos mais) pelo qual estarei me juntando a milhões de brasileiros no próximo dia 15:
1) Escândalo 1: o escândalo do Mensalão – perto do Petrolão até parece brincadeira de colegiais. Quem continua preso mesmo?;
2) Escândalo 2: o escândalo do Petrolão – os inquéritos estão para ser abertos, mas há forte cheiro de pizza no ar e precisamos ficar alertas para as sórdidas manobras de abafamento;
3) Congresso 1: a fraude por compra de votos na aprovação do orçamento da união – vergonha, com a quebra da lei de responsabilidade fiscal pelo executivo, chancelada pelo legislativo;
4) Congresso 2: aumento dos próprios salários – enquanto o país entra em recessão e o desemprego avança;
5) Congresso 3: liberação de passagens para cônjuges – muita cara de pau;
6) Agronegócio: emplacamento de máquinas agrícolas – cobrar para as máquinas “trafegarem” nas lavouras? Morro e não vejo tudo;
7) Mentiras de Campanha: as coisas não estavam tudo bem na economia? O escândalo da Petrobrás não era invenção da elite branca? E quem iria fazer arrocho sobre a população não era a oposição? Etc, etc, etc ...
8) Economia 1: inflação fora de controle – em fevereiro chega anualizada a 7,7%;
9) Economia 2: início de recessão – menor PIB em 2015 desde 1990?
10) Economia 3: absoluto descontrole das contas públicas – a fatura de 2014 chegou agora;
11) Economia 4: pior nível de criação de emprego desde 2002;
12) Economia 5: aumento de impostos – mesmo com o país entrando em recessão, esse é o nosso ajuste fiscal de sempre;
13) Economia 6: aumento de juros para conter a inflação de demanda!?!? – por acaso alguém está consumindo no Brasil?
14) Economia 7: tarifaço nos combustíveis – com o petróleo caindo de US$ 100 para US$ 50/barril;
15) Economia 8: tarifaço na energia elétrica – essa mania de brasileiro tomar banho todo o dia está acabando com o país;
Sinto que poderemos estar novamente vivendo um período histórico para o país e entendo ser o momento de suma importância, para mostrarmos à classe dominante que não aguentamos mais tanto descalabro. Estamos revoltados, com nojo, com raiva. Nossa paciência acabou. Nossos limites foram testados de todas as maneiras e estendidos muito além de nossa capacidade. Especialmente agora que as investigações do chamado “Petrolão”, o maior escândalo de corrupção sistemática e organizada da história desse país, chegam ao Supremo Tribunal Federal, mas com intenso, enorme, gigantesco cheiro de pizza no ar. Especialmente depois que o parecer do Procurador Geral de República, Rodrigo Janot, devidamente instruído pelo Palácio do Planalto após encontro com o Ministro da Justiça, se recusou a pedir a abertura de inquérito contra a presidente.
Por isso nada melhor que um momento como esse para dizermos em alto e bom tom que não vamos mais no acomodar. Que não vamos mais nos calar. E que não mais admitiremos sermos ludibriados por esse, ou qualquer outro partido que esteja no poder. Que não vamos mais tolerar que a desfaçatez e a infâmia sejam o embasamento teórico e natural de nossa classe política. Grande parte do setor produtivo da sociedade, que vem sustentando toda essa bandalheira, vai sair às ruas para dizer basta!!!
Um “AgroAbraço” a todos!!!
Flávio Roberto de França Junior
Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria
www.francajunior.com.br e francajunior@francajunior.com.br