Safra dos EUA: Ainda tem muito jogo, por Amilcar Centeno
O último relatório de acompanhamento da safra Norte Americana, emitido pelo USDA na última segunda-feira (13 de Agosto), continua a indicar uma safra cheia, com 1/3 das lavouras de milho e soja em condições boas ou excelentes. A principal mudança foi a redução de cerca de 2% na produtividade média esperada para as lavouras de milho e soja, indicando uma tendência de ajustes nos números para baixo.
Muito se tem especulado sobre a precisão destes levantamentos, e da possibilidade de estarem sendo minimizados o impacto do atraso no plantio, em função do excesso de chuvas, e do verão relativamente frio na maior parte das regiões produtoras.
A maior preocupação é em relação às condições críticas das lavouras do lado Oeste do cinturão do milho, principalmente nos estados de Iowa e Minnesota.Muitos analistas foram surpreendidos pelo relatório do USDA, que indica condições relativamenteboas nestes estados, ao mesmo tempo em que reduz as condições dos demais estados da região, que estiama-se estarem em excelentes condições.
Talvez mais correto do que questionar os dados é entender que eles estão longe de serem definitivos, e que ainda tem muito jogo para ser jogado antes do placar da safra norte americana ser definido.
Dois jogadores deverão decidir este jogo: PRODUÇÃO E DEMANDA
No lado da PRODUÇÃO, como a área está praticamente definida, o futuro depende da produtividade.
Avaliações de campo coduzidas pela Universidade de Illinois indicam que,apesar das boas condições das lavouras, o desenvolvimento das plantas está bastante atrasado. Considerando o estágio da formação das vagens e do enchimento dos grãos da soja, bem como o enchimento dos grãos do milho, o estudo estima que o desenvolvimento do milho está de 10 a 14 dias atrasado em relação ao normal para esta época do ano, enquanto o atraso da soja é de 2 a 3 semanas. Já as áreas plantadas em meados de julho (cerca de 5% da área) têm poucas possibilidades de amadurecer antes desta data e a sua finalização ocorrerá dentro do períoodo crítico de geadas.
Este quadro se torna ainda mais preocupante quando se observa as previsões de temperaturas abaixo do normal para os próximos 30 dias. Caso isso se confirme, os atuais 10 dias de atraso do milho podem se traduzir em 15 a 20 dias de atraso em meados de setembro, pois o atraso vai sendo agravado na medida em que a temperatura cai com a aproximação da primavera.Estimativas feitas pelos técnicos da universidade, com base no número de graus dia acumulados pelas lavouras de milho plantadas no início, meio e final do mês de maio, estas plantas deverão alcançar a maturidade (32% de umidade no grão) respectivamente entre 5 e 10 de setembro, 15 e 20 de setembro e meados de outrubro.
Quanto à soja, apesar da aparência saudável da maior parte das lavouras, a formação das vagens está mais atrasada do que o normal e as plantas semeadas na segunda quinzena de maio ainda não iniciou ao enchimento das vagens (estágio R2). Caso as temperaturas se mantenham nos níveis normais, ainda teremos uma safra cheia, porém se elas continuarem abaixo do normal poderemos observar uma queda na produtividade. Estas baixas temperaturas podem retardar o amadurecimento das plantas para o final de setembro ou início de outubro. Além desse impacto no amadurecimento das plantas, temperaturas abaixo do normal ao longo dos próximos 30 a 40 dias, poderão provocar uma diminuição no número de vagens ou um aumento na quantidade de vagens sem enchimento
Todos estes atrasos colocam um ponto de interrogação sobre o que poderá acontecer na reta final do amadurecimento das lavouras, principalmente em função do risco de geadas neste período. Estima-se uma probabilidade de 50% de ocorrência de geadas em meados de outubro. Em condições normais, mesmo o milho plantado no início de junho terá amadurecido antes desta data. Porém, qualquer geada antecipada ou um prolongamento do frio e o consequente atraso no amaduremento das plantas poderá aumentar siginificativamente a possibilidade de perda de produtividade das lavouras.
Para termos uma idéia de como o clima ainda pode influir na reta final das lavouras norte americanas é bom lembrar da safra de 2009, quando após um outubro chuvosa mais da metade das lavouras de soja do Illinois foram colhidas depois d 1º de novembro.
No lado da DEMANDA, muitos analistas acreditam que as projeções do USDA para exportações e para o uso interno em alimentação animal estão muito generosos.
Já no caso da soja, especula-se que as estimativas feitas para o consumo interno e exportação estão subestimados. Qualquer aumento nestes números da demanda poderão manter os estoque em níveis muito baixos, com reflexo positivo nos preços.
Mesmo que ainda seja difícil prever os preços futuros em função de todas estas incertezas e indefinições, parece que ainda vamos ter mais um período com os preços da soja relativamente mais altos do que os preços do milho.
Para concluir, parece que mais importante do que as especulações em torno dos números apresentados nos relatórios do USDA, é manter a perspectiva de que ainda tem muito jogo a ser jogado nesta safra norte-americana.
Caso tenhamos prorrogação, a tendência é que o time do clima acabe vencendo o time da produtividade, com uma ajudinha do juiz da demanda! Caso tudo se encerre no tempo normal, parece que nem a mão do juiz poderá evitar a vitória do time da produtividade, e a goleada pode ser grande!
PENSE NISSO!