Café: Tem os que falam de 200 e o que falam de 500!!

Publicado em 14/03/2011 08:48
Tristeza no Japão com o pior terremoto na história do país, e um tsunami mostrado pelas TVs que assusta pela rapidez e força que varre a região afetada. O mercado de energia que vinha subindo com a instabilidade política no Norte da África e no Oriente Médio caiu levemente com a expectativa de menor consumo do petróleo em função do fechamento de algumas refinarias japonesas.

A turbulenta semana teve ainda o “downgrade” dos títulos da dívida espanhola pela Moody’s – que diz que o montante necessário para sanar os bancos do país é três vezes maior do que os 15
bilhões de euro que o governo estima – e números da balança comercial Chinesa mostrando um desaquecimento da economia do dragão devorador de commodities.

Os preços elevados do petróleo, e das commodities, continuam incomodando diversos países, com novas rodadas de incremento de juros em alguns deles. Já na Europa e nos Estados Unidos a pressão complica o panorama dada a fragilidade da recuperação econômica que desafia os bancos centrais em eventualmente serem “forçados” a mudar a política de juros baixíssimos.

O mercado de café teve uma semana agitada, com a bolsa de Nova Iorque subindo 31.55 dólares por saca durante o período de carnaval (incluindo Quarta-feira de Cinzas), para depois devolver 29.43 dólares por saca na quinta e sexta-feira. Em Londres o movimento também foi brusco, mas o destaque foi na volatilidade do spread entres os contratos de maio e julho, que saiu de 15 dólares por tonelada de desconto (o maio mais barato do que o julho), para 74 dólares de prêmio (o maio mais caro do que o julho) em apenas um dia!!! A BM&F reabriu na quarta-feira com  26 dólares por saca de alta – imagina um pequeno especulador que decidiu passar o carnaval vendido!!! A volatilidade dos mercados foi insana (para aqueles que não estavam longe das telas curtindo uma praia sem acesso a internet e celular).

O motivo de tamanha oscilação advém dos preços estarem bastante elevados, com as chamadas de margens limitando o giro de negócios no físico, e em um cenário macroeconômico instável. A ausência de vendas do Brasil também ajudou, claro, mas outras origens deram sinais do aperto de caixa generalizado com os diferenciais de cafés suaves, incluindo o colombiano, negociando aos mesmos níveis pagos pela bolsa (“tenderable level”). Isto porquê os poucos vendedores
encontraram um número ainda menor de compradores – em resumo os volumes negociados no físico foram pequenos.

Os torrefadores, estarrecidos com a alta ininterrupta dos preços, optam por não estender a cobertura dos futuros, focando em fazer negócios da mão-para-a-boca. A razão, creio eu, é simples: a manutenção dos preços nos patamares atuais em algum momento forçará o repasse do aumento aos consumidores. Desta forma há a  incerteza de uma eventual redução da demanda, e por outro lado há o enorme desconforto em comprar o mercado futuro nas máximas de 34
anos, com o preço da saca do café nas origens remunerando mais de 100% o custo de produção – algo que desafia a lógica para acreditarem que os preços se manterão altos por muito mais tempo.
Por causa disto estar na pele dos torradores hoje em dia é dificílimo, mas os intermediários também não tem uma vida tão fácil pois se preocupam com a maior necessidade de caixa (para por
exemplo pagar R$ 550 por saca e mandar margem para a bolsa), e com os riscos de eventuais defaults.

A conclusão é que a volatilidade dos preços continuará alta, e todas as dúvidas transpiram nas volatilidades implícitas das opções, que apenas nesta semana subiram 5% dos níveis baixíssimos
que estavam. A inelasticidade da demanda será testada como talvez nunca tenha sido antes, já que as altas anteriores tiveram em sua grande maioria uma duração curta, diferente desta. A
“oferta-inelástica” é temporária, e tem mais a ver com o ciclo de produção do café do que qualquer outra coisa.

Com isso há opiniões para todos os gostos, e muitas que soam exageradas. Esta semana ouví desde aqueles que acreditam que o mercado futuro logo cairá para baixo de US$ 200 centavos/libra (este grupo é minúsculo) até aqueles que acham que 300-centavos se tornará nível de suporte logo!! Um de nossos colaboradores, que normalmente acerta mais do que erra, diz acreditar que os preços em maio próximo (daqui há dois meses) estarão a 220 centavos em Nova
Iorque, e que em maio de 2012 atingirão 500 centavos – nada menos do que uma variação de 280 centavos!!!

Embora as volatilidades-implícitas tenham aumentado, não dá para participar do mercado sem comprar uma proteção via opções. O COT mostrou que com os fundos comprando apenas 1,759 lotes o mercado subiu 17.90 centavos em uma semana. Apertem os cintos pois a montanha-russa
ainda tem um longo caminho a percorrer.

Fonte: Archer Consultiing

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