Mercado de café: "Ou a cadeia se une ou vai faltar café!", por Marcelo Fraga Moreira*

Publicado em 15/08/2021 07:24
*Marcelo Fraga Moreira escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

Apesar da grande expectativa com o vencimento das opções na sexta-feira a semana foi tranquila com o Set-21 trabalhando com uma amplitude de 1.490 pontos (mínima/máxima @ 172,45 / 187,35 centavos de dólar por libra-peso). Com aproximadamente 5.700 lotes em opções de compra “Call” e 4.100 lotes em opções de venda “Put” em aberto entre os “strikes” 185-195 dessa vez os “vendidos” se deram bem. O Set-21, após negociar na máxima da semana @ 187,35 centavos de dólar por libra-peso (justamente no último dia da semana), encerrou a primeira quinzena do mês de Agosto @ 182,90 centavos de dólar por libra-peso.

O volume médio diário foi acima dos 77 mil lotes, e na quinta-feira chegou a negociar acima dos 100.000 lotes (maior volume do ano)! Tanto o Set-21 quanto o Dez-21 conseguiram respeitar e trabalhar acima dos principais suportes e ambos fecharam acima das médias móveis dos 72, 50, 9 e 17 dias (respectivamente no Set-21 e no Dez-21 @ 157,30 / 166,80 / 177,90 e 180,00 e @ 167,00 / 169,70 / 180,90 / 185,10 centavos de dólar por libra-peso). A primeira resistência, para ambos os vencimentos, continua sendo o topo da “Bollinger Bands” dos 50 dias @  198,30 e @ 201,30 centavos de dólar por libra-peso respectivamente.

Mercado interno segue firme, com compradores tentando comprar café arábica entre 950-1.050 R$/saca. O café robusta já conseguiu romper e se sustentar acima dos 600 R$/saca. Produtores continuam vendendo da “mão para a boca” e buscando negociar acima dos 1.100 R$/saca para o café arábica e acima dos 620/650 R$/saca pra o café robusta.

Nesta semana começaram a surgir novos receios com os riscos para novas restrições e do fechamento de fronteiras e cidades em função do avanço da “variante Delta”. Novos índices de contaminação acima do esperado voltaram a surgir nos Estados Unidos, Austrália e China.  

Na quarta-feira a China confirmou o fechamento parcial do terminal de contêineres de Meishan, no porto de Ningbo-Zhoushan. Este terminal corresponde ao movimento aproximado de 25% da carga de contêineres movimentado por esse porto. Ou seja, dependendo do prazo que este terminal continuar com restrições, em breve o mercado vai sentir os efeitos desse novo problema logístico dando suporte aos valores de frete e aumentando o risco para novos atrasos e desabastecimento de produtos ao redor do mundo.

As exportações do Brasil no mês de julho, segundo a Cecafé*, foram 12,8% menores quando comparados ao mesmo período do ano anterior. O Brasil conseguiu exportar “apenas” 2,8 milhões de sacas. Essa redução continua sendo atribuída aos problemas logísticos, a falta de contêineres e aos aumentos descabíveis no valor do frete para vários destinos. Nada se fala nada, nada se comenta com relação a falta de produto voltada para a redução/quebra da safra 21/22. A pergunta das últimas semanas continua a mesma entre todos os envolvidos no setor: “Onde está o café”?

A Conab ainda não divulgou o estoque de passagem da safra 20/21. As cooperativas também não (não divulgam seus estoques de passagem muito menos os atuais) Nenhuma existe nenhuma informação referente ao recebimento/entrega de produto da safra atual. Ora, em um mercado nervoso como esse, qualquer informação das cooperativas, positiva ou negativa, deveria ser de conhecimento público, inclusive para acalmar e/ou direcionar seus clientes/associados.

Os principais bancos/corretoras continuam sem publicar revisões atualizadas da safra 21/22 mesmo com a safra praticamente finalizada (café arábica com aproximadamente 80% já colhida e café robusta já finalizada). Por quê?

Apenas a agência Safras e Mercado voltou a publicar novas informações para a safra 21/22  mantendo a produção total em 56,5 milhões de sacas e com 90% da safra já colhida (50,45 milhões de sacas já colhidas até o momento - ou seja, ainda restam colher aproximadamente 6 milhões de sacas do café arábica). Será? Onde será que os produtores do tipo café arábica estão “escondendo” as 30 milhões de sacas já colhidas? E as 20 milhões de sacas de café robusta já colhidas? Onde estão? Os demais participantes seguem em silêncio e o mercado segue aguardando pacientemente os números finais.

Na semana também tivemos notícias positivas. Dentre elas destacamos as seguintes:

- Rabobank International: Neste ano, o consumo global de café deve aumentar para 168,8 milhões de sacas frente a 164,8 milhões de sacas no período anterior. Segundo Guilherme Morya “embora os preços mais altos deste ano possam limitar a recuperação pós-pandemia, o consumo não diminuirá”;

- AgriSompo North America: segundo seu diretor de pesquisa agrícola Sr. Sterling Smith “Os preços teriam que ultrapassar US$ 4 a libra-peso para começar a reduzir o consumo”;

- Fitch Solutions: Na Ásia - o mercado de café que cresce mais rápido - o consumo aumentará com a maior renda e uma florescente cultura de café na China, Índia e Indonésia;

- Nestlé: Para empresas como a Starbucks, grãos de café representam uma pequena parte dos custos totais em comparação com mão de obra e aluguel. Ainda assim, a maior rede de cafeterias do mundo diz que sente as pressões inflacionárias. “O preço será uma das muitas alavancas que usaremos para compensar esses obstáculos além de incentivar consumidores a comprarem itens mais caros, como alimentos e bebidas geladas. Segundo o CEO da Nestlé, Mark Schneider, “os produtos premium e preços iniciais mais altos dão opções à fabricante do Nespresso e Nescafé. “Onde for apropriado, vamos aumentar os preços”, disse.

Ainda, segundo a Starbucks “O mercado mundial deve se expandir a uma taxa anual composta de 9% nos próximos três anos, para “bem mais US$ 400 bilhões”.

- Conselho Deliberativo da Politica do Café (CDPC): junto com o Conselho Monetário Nacional (CMN) foi anunciado a “reserva” de 1,3 bilhões de reais do Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira) para “atender os cafeicultores prejudicados pelas geadas nas últimas semanas”. Segundo a notícia publicada no site revistacafeicultura.com.br “os valores ficarão aa disposição dos agentes financeiros após uma avaliação oficial das perdas causadas pelas geadas nas regiões produtoras”. Ainda, segundo a matéria “após a aprovação do Conselho Monetário Nacional – CMN – os recursos serão liberados para os bancos para atender as demandas dos produtores, cooperativas, indústrias e exportadores”.

Ora, até onde sabemos quem sofreu com as geadas foram os produtores! E as perdas com a crise hídrica? Quem vai socorrer o produtor? Já existem muitos produtores desistindo de replantar as áreas destruídas pelas geadas e já estão literalmente passando a máquina por cima das lavouras e prontos para começar a diversificar para outras culturas! Isso é fato! Qual o tamanho dessas áreas? Ainda muito cedo para estimar...

Ou a cadeia cafeeira se une a favor do PRODUTOR, ou vai faltar café! E os preços vão ter que se ajustar na lei da “oferta x demanda”!

R$ 1.300.000.000 (1 bilhão e 300 milhões de reais) parece ser muito, mas isso representa apenas 248 milhões de dólares! Considerando o custo por hectare para plantio ao redor de 30.000 R$/hectare (e 3 anos para começar a colheita), esse dinheiro daria para replantar aproximadamente 43.500 hectares. Fazendo outra “conta de padaria”, considerando a saca do café arábica hoje sendo negociada para o produtor ao redor dos 210 US$/saca (1.100 R$/saca), este valor é equivalente a 1.190.476 sacas de café arábica. Considerando que parte desses recursos ficarão “pelo caminho” -  beneficiando bancos, cooperativas e tradings - no final vai sobrar muito pouco recurso para quem realmente produz café nesse Brasil – para o PRODUTOR!

O PRODUTOR não quer esmolas. Nesse momento o produtor necessita de ajuda real e da liberação dos recursos “pra ontem”.

Estamos assistindo as publicações dos balanços do segundo trimestre de 2021 das principais empresas do mundo envolvidas no setor agro/alimentício e das empresas de logística. Lucros recordes ao redor do mundo em todos os setores. O que vem sendo feito efetivamente para “não matar as galinhas dos ovos de ouro”? Muito pouco. Apenas algumas ações pontuais com a atual “frase da moda”: “Estamos investindo em projetos de Sustentabilidade”!

Ora, minha sugestão para os participantes desse mercado do café, para nossos leitores (e podendo ser extrapolado para todas outras culturas): Vamos criar um fundo emergencial por produto, por país. Por exemplo, no Brasil para cada saca de café produzida e comercializada cada participante poderia e deveria depositar neste fundo uma contribuição de 1 US$/saca (cooperativa, corretora, banco, trading). Seria uma nova CPMCafé (um “imposto” sobre a negociação/movimentação por saca de café) em cada etapa negociada, com um teto de até 1 Bilhão de US$ por país. Parece muito mas não é!

Tomando o Brasil novamente como exemplo, com uma produção média nos últimos 3 anos ao redor dos 55 milhões de sacas (165 milhões de sacas) e considerando que essa quantidade de produto foi negociada na média 4x até chegar na xicara do consumidor (produtor para cooperativa; produtor para cerealista; cerealista para cooperativa; cerealista para indústria; cooperativa para trading; trading para trading; cooperativa para indústria; e indústria para supermercados) em 3 anos esta nova “CPMCafé” já teria arrecadado aproximadamente 650 milhões de dólares. Esse fundo poderia ter regras onde pelo menos 500 milhões de dólares deveriam ficar sempre em “caixa” para ajudar o PRODUTOR em casos extremos (como por exemplo as perdas com “Atos de Deus” como a geada e crise hídrica) e o valor que ultrapassar esse montante poderia ser investido como “doação” para produtores de pequeno porte cadastrados (até 10-50 hectares, por exemplo) para implementar projetos de irrigação, energia eólica e/ou solar em muitas áreas produtoras/carentes. Para esse projeto o fundo poderia contratar uma diretoria isenta, com pessoas transparentes e honestas, reportando diretamente ao conselho composto por 1 representante de cada empresa envolvida na captação dos recursos (claro, uma estrutura sendo bem remunerada e sem viés politico/partidário para evitar corrupção e “favorecimentos regionais”).

Segundo o comentário do diretor da AgriSompo North America, Sr. Sterling Smith “Os preços teriam que ultrapassar US$ 4 a libra-peso para começar a reduzir o consumo”. Ora, por que já não estipular um preço mínimo para o produtor em US$ 3,00 a libra-peso para o café tipo arábica e US$ 2,10 a libra-peso para o café tipo robusta ao redor do mundo? E já começar a “distribuir riqueza” e “reduzir a pobreza” ao redor do mundo? Acima desse valor o mercado poderia seguir pagando um prêmio para os cafés “premium”, com certificação, com certificado de origem, com certificado de qualidade!

Utopia? Basta querer!!

“Sugestões da semana”:

Basicamente as mesmas da semana anterior, ajustando apenas os valores:

No Set-21: Seguir vendendo apenas o necessário para pagar as contas do dia/semana, com preço mínimo @ 1.000 R$/saca para o café arábica e com preço mínimo @ 600 R$/saca para o café tipo robusta.  

No Dez-21: Realizar a venda para os compradores na modalidade “venda com preço mínimo garantido” através da compra da estrutura “PUT-Spread”  strike +175/-150 (essa estrutura fechou na última sexta-feira custando aproximadamente 55 R$/saca). Essa estrutura garante ao produtor uma venda ao redor dos 1.050 R$/saca – já descontando o custo da estrutura – e desde que o Dez-21 feche acima dos 155 centavos de dólar por libra-peso. Por outro lado, uma vez que o produtor já tiver determinado com o comprador o valor do “desconto a ser aplicado”, o valor do “basis”, o produtor poderá fixar o produto a qualquer momento, entre o “hoje” até o dia do vencimento das opções do Dez-21, ao redor do dia 10-15 de novembro-21.

Para a safra 22/23: No Set-22 - Analisar a compra da “Put-Spread” strike +180/-155 (essa estrutura fechou na última sexta-feira custando aproximadamente 90 R$/saca). Essa estrutura garante ao produtor uma venda ao redor dos 1.100 R$/saca – já descontando o custo da estrutura - desde que o Set-22 feche acima dos 155 centavos de dólar por libra-peso. Por outro lado, uma vez que o produtor já tiver determinado com o comprador o valor do “desconto a ser aplicado, o valor do “basis”, o produtor poderá fixar o produto a qualquer momento, entre o “hoje” até o dia do vencimento das opções do Set-22, ao redor do dia 10-15 de agosto de 2022.

OBS: Nossos cursos mudaram de data! Devido às alterações no nosso site que implicam no armazenamento das videoaulas, além de melhorias na qualidade de imagem e som e recursos didáticos, fomos obrigados a mudar as datas dos nossos cursos: o Curso Essencial será dado de 18 a 22 de outubro e o Avançado de Opções dias 8 a 12 de novembro. Sempre às 16 horas com duas horas e meia de duração.

Depois só em 2022!!

Detalhes no nosso site archerconsulting.com.br

Ótima semana a todos!

Marcelo Fraga Moreira*

MAIS:

** “Call” = opção de Compra

** “Put” = opção de Venda

** “Compra Call-Spread” = compra e venda simultânea de 2 Opções de Compra comprando a Opção com preço de exercício  mais baixo vendendo a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Venda Call-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Compra vendendo a Opção com preço de exercício  mais baixa e comprando a Opção com preço de exercício mais alto);

** “Compra Put-Spread” = compra e venda simultânea 2 Opções de Venda comprando a Opção com preço de exercício  mais alto e vendendo Opção com preço de exercício mais baixo);

** “Venda Put-Spread” = venda e compra simultânea 2 Opções de Venda vendendo a Opção com preço de exercício  mais alto e comprando a Opção com preço de exercício mais baixo);

** “CFTC” = Commodity Futures Trading Commission – agência independente do governo dos Estados Unidos que regula os mercados de futuros e opções das commodities;

** “IBGE” = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

 ** “Cecafé” = Conselho dos Exportadores de Café do Brasil

** “USDA” = Departamento da Agricultura dos Estados Unidos

** “ABIC - Associação Brasileira da Indústria de Café

Fonte: Archer Consulting

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