Café: Real e Nova York voltam a junho de 2017, por Rodrigo Costa
Os mercados acionários cederam em uma sequência de sessões voláteis, iniciando a semana nervosos com o desdobramento das manifestações em Hong Kong, as prévias das eleições na Argentina apontando para a queda da situação e depois pela inversão da curva dos juros dos títulos das dívidas americanas e britânicas de dois e dez anos – pela primeira vez desde a recessão de 2008.
Donald Trump recuou na tarifação de alguns produtos vindos da China, em sua maior parte eletrônicos, tendo um de seus conselheiros próximo dito que a medida foi um presente de Natal para a nação americana – não por acaso a suspensão acaba dia 15 de dezembro.
As incertezas provocadas pelas impulsivas decisões do presidente dos Estados Unidos em nada ajudam as empresas no seus planejamentos estratégicos, e os investidores esperam um apoio dos governos com mais expansões monetárias.
Os emergentes ficam em situações delicadas não apenas em função de possíveis adicionais desvalorizações da moeda Chinesa, mas também prejudicados pela perda de autonomia de um estado Indiano (que gera atrito com o Paquistão), protestos contra Putin na Rússia e no Brasil o risco de contaminação pela troca de poder na Argentina e a “desgovernança” de Bolsonaro.
Neste cenário o Real foi a R$ 4.05, nível mais fraco desde junho do ano passado, antes das eleições presidenciais, ajudando as bolsas de café a cederem novamente com o arábica convertido na moeda brasileira batendo os patamares também de junho de 2017.
A queda do terminal basicamente ajusta o contrato de dezembro para os valores de setembro, dado que o último entrará em período de entrega e já tem liquidez bem reduzida. É o velho “carrego” que paga aos vendidos um juros anual confortável o suficiente para não atrair uma inversão de posição, ainda mais com a percepção de disponibilidade satisfatória para o atual ano-safra deficitário.
Neste quesito os estoques de café verde nos Estados Unidos subiram pelo quarto mês consecutivo estando no final de julho em 7,099,175 sacas, o maior desde setembro de 2017.
Os diferenciais de praticamente todas as origens se mantêm firmes, começando pelo Brasil, passando pela Colômbia e em recordes no Vietnã. Aqueles que aprenderam a olhar para o basis como um indicador para as cotações, já se adaptaram faz algum tempo, mas é de se imaginar que em um determinado ponto limite o enfraquecimento do terminal.
A certeza de alguns operadores de que Nova Iorque não faz nova mínima fica em cheque diante de um quadro macroeconômico turbulento e de um posicionamento dos fundos com munição o suficiente para adicionar vendas nos seus livros.
Por outro lado, os comerciais voltam a se interessar pelo flat-price e se a sensação de grande parte dos comerciantes estiver certa, de que há uma necessidade de compra de café represada, podemos encontrar um suporte mais robusto dos atuais patamares para baixo.
No Brasil já começa a circular fotos de floradas, ainda não generalizadas, mas alertando o mercado da necessidade de monitorar as chuvas em breve.
Dentro de dois meses as safras de América Central e Vietnã começarão a entrar no mercado, e o pegamento de floradas será o tema de foco para as iniciais estimativas do quanto será produzido na maior origem em 2020/2021.
Tecnicamente o contrato de dezembro precisa se manter acima de US$ 93.70 centavos por libra para não desencadear uma nova onda de vendedores.
Parece que o arábica não deve sair do intervalo entre US$ 90 e 115 centavos por libra, até meados de 2020 – a não ser que pipoque alguma novidade no fundamento.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting