Café: Longo prazo preocupa, mas está distante, por Rodrigo Costa
Os Estados Unidos cresceram 3.2% no primeiro trimestre de 2019, bem acima do que se esperava, ajudados pela formação de inventários, já que o aumento do consumo foi apenas ligeiramente melhor do que antecipado.
A queda para 1.4% do principal indicador inflacionário seguido pelo FED, o núcleo do PCE (gastos em consumo pessoal), reforça a confiança do investidor dos juros serem mantidos nos atuais patamares, estimulando as bolsas – o S&P500 encerrou em nova máxima histórica.
O dólar (DXY) mais firme deixou as commodities mais vulneráveis, tendo o CRB escorregado 2.23% em quatro sessões, pressionado pelas quedas do suco de laranja, do açúcar, dos grãos e do petróleo – na verdade apenas o gás natural, o café, a gasolina e o ouro subiram nos últimos cinco dias.
O café subiu? Isso mesmo, estamos tão anestesiados de tanto apanhar que até nos surpreendemos.
Depois do arábica fazer uma nova mínima em 17 de abril, nesta última semana os preços falharam em novas tentativas de baixa e apesar do Real ter tocado R$ 4.00 novamente o contrato “C” ficou próximo de US$ 95 centavos por libra-peso.
Nova Iorque pode ganhar algum folego caso rompa os US$ 95.25 centavos, atraindo alguma cobertura da posição vendida dos fundos, a questão é o volume de vendas que pode ser encontrado em algum movimento de alta.
No Brasil a colheita começou em todas as regiões, de acordo como CEPEA, com a disponibilidade do conilon devendo aumentar significantemente nas próximas semanas – também para o arábica.
Os agentes de mercado têm a percepção de uma disponibilidade bem confortável de cafés da safra atual, incluindo para o conilon, de certa forma deixando limitado qualquer sustentação de ganhos do terminal que não tenha outro elemento – como o Real valorizando, por exemplo.
A “safrinha” da Colômbia começa a ser colhida, mas quem precisa do café deste país no curto-prazo tem sido forçado a pagar diferenciais pelo menos 10 centavos mais caros do que quando o “C” estava acima de U$ 1.00 – é de se imaginar que o aumento de fluxo cause uma diminuição do prêmio.
Não dá para vislumbrar nenhuma novidade para os preços mudarem a tendência de baixa, infelizmente por ora deixando como esperança apenas algum evento climático.
A janela de uma alta praticamente se fecha com a entrada das safras e com estoques mundiais suficientes para navegarmos o ciclo mais baixo de produção que terá um déficit bem menor do que o potencial que alguns já tentam antecipar para 2020/2021.
Olhando para um horizonte mais longo o México anunciou um plano de plantar 200 mil hectares de café, buscando gerar 80 mil postos de trabalhos permanentes – notícia não muito animadora àqueles que procuram argumentos altistas. Mesmo se imaginarmos uma produtividade relativamente baixa, com uma área deste tamanho o país potencialmente pode se aproximar ao volume produzido por Honduras.
A Coca-Cola lançará uma bebida de cola mistura com café em vinte cinco mercados ao redor do mundo até o fim do ano, de acordo com as agências de notícias. O produto terá menos açúcar do que a coca-cola regular e apenas um pouco menos de cafeína do que um copo de café.
Já falamos por aqui do potencial de maior crescimento do consumo de café mundial com bebidas pronta-para-beber contendo café gelado, por exemplo, ganhando mercado percebido como prejudicial à saúde como os refrigerantes.
Os preços atuais se mantendo por vários meses trará, inevitavelmente, consequências de menor produção mundial, talvez não para o Brasil no próximo ciclo, mas faz de 2021/2022 bem preocupante.
O problema é este, a preocupação pode se dar daqui a apenas dois anos, e isto se Nova Iorque não subir nos próximos doze meses. Este é o principal motivo dos investidores não arredarem o pé de suas posições vendidas, que dado o carrego geram 15% ao ano de retorno (bruto).
Os produtores brasileiros nem no Real podem apostar, pois a moeda firmando pode levar a bolsa para cima, mas pouco ou nada será refletido na quantidade de reais pagos por saca.
Uma baita sinuca de bico!
Boa semana a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting