Cenário eleitoral pode clarear e café tem algumas boas novas, por Rodrigo Costa
O mês de agosto registrou altas históricas para os principais índices acionários dos Estados Unidos liderados pela valorização de algumas empresas de tecnologia, mencionado aqui há duas semanas.
O índice do dólar, cesta composta por sei moedas de regiões e países desenvolvidos, buscou as máximas desde julho de 2017, levando o CRB para próximo das mínimas do ano, e então devolvendo grande parte dos ganhos após ponderações dos investidores sobre declarações do FED e de Trump.
O Real Brasileiro foi uma das moedas que mais desvalorizou no período, afundando frente a nebulosa eleição presidencial de outubro e o receio dos mercados de um resultado contrário a uma agenda ortodoxa necessária.
Neste breve retrospecto do mês, o pano de fundo serviu para levar o café para baixo e como pudemos nota claramente na última sessão de quinta-feira alguns fundos de algoritmo tem operado a commodity de acordo com a oscilação da moeda brasileira.
Virtualmente terminada, a colheita no Brasil deixa de ter um aspecto negativo para pressionar ainda mais as cotações e o feriado Americano do Labor-Day, na próxima segunda-feira dia 3 de setembro, marca simbolicamente o fim do verão, trazendo os compradores de café físico de volta às mesas e pelo que tudo indica há bastante a ser feito para preencher seus livros.
Os diferenciais “caros”, historicamente falando, não animam uma boa parcela de quem precisa de cobertura de basis, seja por parte de quem andou vendendo a descoberto ou quem está naturalmente sempre “short”, os torradores.
Por outro lado, mesmo que se pague, digamos, US$ 10.00 centavos por libra abaixo para cafés “Good Cups”, uma fixação imediata do terminal faz do preço final da matéria-prima US$ 90.00 centavos por libra – nível fácil de ser absorvido.
É claro que não é tão simples assim para alguns operadores, haja vista a separação das mesas de diferenciais e de futuros, que tem analisada a performance de seus profissionais em cada critério, ou seja, a quanto o João fez o seu hedge de futuros e em que diferencial Pedro está posicionado. Entretanto, no frigir dos ovos os acionistas certamente vão considerar a “união” dos dois times, eventualmente ficando satisfeitos com o “big picture”.
Noticias positivas começam a pipocar, ainda que seja natural o pessimismo imperar em um cenário de preços baixos e poucos darem atenção a elas. Uma delas foi o FDA, órgão americano que regulamenta alimentos e remédios, não autorizar o estado da Califórnia a rotular o café como sendo uma bebida cancerígena.
Outra, talvez mais efetiva aos preços, foi a “recuperação” do Real depois de bater R$ 4.2148 na quinta-feira para R$ 4.0545 na sexta-feira, na expectativa, realizada na madrugada de sábado, à impugnação da candidatura de Lula no TSE.
Não menos importante a linha de crédito colocada a disposição dos produtores colombianos para ajuda-los neste momento em que os preços praticados no país estão abaixo do custo de produção, traz uma perspectiva de retração na oferta, ou um eventual atraso quando a colheita começar por lá – ainda que caiba a discussão da efetividade da atitude no médio e longo prazo.
Já olhando para o longo prazo, a compra pela gigante Coca-Cola da maior rede de coffee-shops do Reino Unido, a Costa Coffee (infelizmente não é da minha família, apesar do nome) confirma o que tenho comentado sobre o promissor futuro da demanda para a bebida-café, com inovações como o café-gelado e uso como ingrediente em vários produtos. A estratégia da Coca parece focar no potencial do mercado Chinês, mas é inegável que a empresa ganha corpo e traz expertise para competir com a Starbucks em mercados maduros, principalmente os Estados Unidos.
O começo do horário eleitoral no Brasil vai gradativamente dar forma ao pleito presidencial, e se as pesquisas divulgadas até agora estiverem certas, assim como vários analistas, parece que a esquerda deve perder força, o que aliviará a pressão no Real e promover um ajuste da bolsa de café em Nova Iorque.
Os produtores de café no Brasil podem não sentir tanto, pois o valor da saca paga localmente pode não mudar muito, salvo se o terminal conseguir rumar acima de US$ 120.00 centavos por libra, um objetivo, hoje, bastante distante.
Uma ótima semana e muito bons negócios a todos a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting