Real força queda do preço do café em Nova Iorque abaixo de 1 dólar, por Rodrigo Costa
O presidente do FED, Jerome Powell, em seu discurso no encontro entre bancos centrais sediado em Jackson Hole disse que não vê riscos elevados da economia Americana sobreaquecer e que não há intenção de acelerar o ritmo de aumento dos juros.
Donald Trump ao mencionar em entrevista à Reuters não apreciar o incremento do custo do dinheiro nos Estados Unidos causou uma desvalorização do dólar e estimulou investidores a tomar risco, levando o S&P500 para novas máximas históricas e atraindo também compras nas commodities.
Mesmo este cenário internacional de enfraquecimento do índice do dólar não conseguiu evitar a queda do Real Brasileiro, cuja cotação atingiu 4.1275 na sexta-feira, muito próximo da mínima histórica de 23 de setembro de 2015, R$ 4.1783.
As pesquisas eleitorais divulgadas no Brasil apontando na liderança um cidadão condenado e estando cumprindo pena na prisão é algo de difícil compreensão para os investidores de democracias sólidas, e o risco crescente do partido dos trabalhadores levar um candidato ao segundo turno amedronta o capital. Isto porque a crise na Venezuela está aí para mostrar os riscos, e não custa lembrar que Lula sempre apoiou os lideres e o regime daquele país.
O café em Nova Iorque negociou no mais baixo patamar desde 26 de junho de 2006, quando o segundo contrato mais líquido tocou US$ 95.85 centavos por libra-peso, pressionado não apenas pelas fixações de ultima hora antes do período de entrega do contrato de setembro, mas muito influenciado pelo derretimento do Real.
Há 16 anos o “C” fez sua mínima histórica, US$ 42.60, sob o risco de eleição do Lula e alguns meses após o triste ataque ao World Trade Center em Manhattan, e na época a moeda brasileira tinha pela primeira vez negociado a R$ 4 contra o dólar. Economistas dizem que os R$ 4.00 de 2002 equivaleriam a R$ 7.00 hoje, nível que se atingido poderia levar o café não para aqueles níveis, mas talvez perder mais uns US$ 30 centavos – bate na madeira!
O rompimento do nível de US$ 1.00 por libra no terminal provocou manifestações da Colômbia e de Honduras dado que os preços negociados internamente já estão abaixo do custo de produção nestes dois países, os quais não se “beneficiaram” do mesmo tanto de desvalorização de suas moedas.
No Brasil como a colheita ainda não terminou a movimentação no mercado físico melhorou bem pois convertendo o terminal em reais por libra (R$ 429.40) a bolsa apagou as quedas acentuadas deste mês de agosto e continua longe dos R$ 383.50 centavos por libra do último 16 de março.
Em termos de diferenciais pouco foi alterado, com compradores interessados em buscar uma maior cobertura em níveis mais palatáveis, mas que são incompatíveis com a reposição nas origens.
O fechamento da semana foi positivo, dadas as circunstâncias, tirou o mercado em mais de US$ 5.00 centavos da mínima e pode causar uma cobertura da posição vendida dos fundos, que representa 40% do total de contratos em aberto.
O grau de incerteza politica no Brasil deve manter a volatilidade do Real forte e uma maior desvalorização vai limitar os ganhos das cotações das commodities nas quais o Brasil é dominante (como café e açúcar), podendo provocar novas baixas.
Caso a inquietação seja de alguma forma contida até as eleições, sabe-se lá como, eu arriscaria dizer que já vimos as mínimas do café, pois os preços nos atuais patamares desencorajam a manutenção adequada dos cafezais e gradativamente ajustam o excesso de oferta esperado já para 2019/2020.
Não que o superávit mundial esperado para o próximo ciclo se resolva tão rápido, mas casos tristes como as perdas de algo em torno de 1.5 milhões de sacas na Índia, devido a deslizamentos e chuvas fortes, assim como menores produtividades em diversas origens, por menores que possam ser, em um ano onde o Brasil produzirá 10% a 15% menos de arábica, podem ser suficientes para já no final do primeiro trimestre de 2019 sentirmos uma estabilização das cotações e uma leve melhora.
Isto, é claro, se o próximo presidente eleito no Brasil estiver comprometido com as reformas econômicas estruturais importantes para não deixar o país ainda mais vulnerável.
Uma ótima semana e muito bons negócios a todos a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting