Origens jogando a toalha e vendedores agressivos, por Rodrigo Costa
Nos Estados Unidos existem 9 vagas de trabalho disponíveis para cada 10 pessoas desempregadas, uma situação de pleno emprego onde há desencaixe entre as qualificações exigidas pelos empregadores e as oferecidas pelos candidatos.
A divulgação da manutenção da taxa de desemprego, com a criação de postos bem acima do mínimo necessário para repor o mercado, inicialmente fez o dólar americano subir, mas como os salários aumentaram menos do que se imaginava os investidores tiraram um pouco o pé da aposta de aumentos adicionais de juros.
Trump ameaça novas tarifas para os “parceiros comerciais” com os quais o país tem um déficit grande, um movimento que se executado com severidade pode pressionar indicadores inflacionários, já que a América tem sido importadora de deflação nas últimas décadas.
O mercado acionário teve uma semana positiva, com ganhos de mais de 3% para os principais índices das grandes economias no mundo. Já o CRB oscilou ao redor dos 200.00 pontos, com ganhos de 6.81% do contrato de cacau, 3.05% do níquel e 2.18% do algodão, e perdas de 4.32% do açúcar demerara, 2.97% da soja e 1.35% do alumínio.
O café em Nova Iorque teve um intervalo curtíssimo, negociando entre US$ 119.60 e US$ 122.30 centavos por libra peso, para desespero de quem quer volatilidade para operar os futuros, e alegria dos participantes que estão vendidos em volatilidade.
O vencimento das opções seriais de abril, na sexta-feira, atraiu as cotações de maio para próximo de 120.00 centavos, onde tinha um volume de mais de três mil lotes de contratos em aberto.
O tom de espera para a chegada da safra brasileira tem deixado impaciente alguns vendedores, que aparentemente têm sido bem agressivos em vendas de diferenciais para o segundo semestre de 2018 e primeiro de 2019. Descontos incompatíveis com uma possível reposição mais leve, dão sinais aos importadores de que logo, logo outros vendedores sairão correndo para abastecer os livros em um basis historicamente bem confortável – para quem compra.
Os vendedores já saem perdendo na arrancada certos do alargamento dos diferenciais, mesmo com o mercado futuro há tempos “teimando” em não ouvir o grito dos altistas – vá entender. Provavelmente a estratégia de vender barato não deve ter machucado o suficiente em 2017, ou quem vende tem a “certeza” da alta do terminal ou ainda de uma desvalorização grande da moeda brasileira – tudo “fácil” de ser previsto.
A demanda tem sido melhor em geral, reflexo de uma necessidade de cobertura dos torradores e também em função de terem ficado animados com o barateamento das ofertas de alguns.
Os estoques de café na Europa subiram 147 mil sacas em janeiro, para um total de 9.925 milhões de sacas armazenadas nos portos reportados. Em fevereiro esperasse uma queda, assim como em março, dada a procura notada.
O Brasil exportou 2.3 milhões de sacas em fevereiro, abaixo das 2.59 milhões de sacas embarcadas no mesmo mês em 2017. A percepção de haver um volume bom de café nas mãos dos produtores e de as vendas futuras terem sido bem abaixo da média, faz o coro dos baixistas aumentar com a crença de que teremos uma pressão de venda no começo da colheita, algo que não se vive há mais ou menos umas três ou quatro safras.
Os fundos de investimento diante deste cenário continuam vendidos a descoberto no terminal, bem próximo do recorde histórico, entretanto alguns não-comerciais compraram o mercado nas últimas duas semanas. As origens, por outro lado, já estão jogando a toalha, como vimos no relatório dos comitentes as vendas equivalentes a 2.36 milhões de sacas nos cinco dias úteis até 6 de março.
Difícil imaginar como os diferenciais podem baratear se NY cair mais e o Real não enfraquecer.
O rompimento da média de 40 dias, a 123.25 centavos, pode trazer alguma recompra dos especuladores, e uma nova baixa (118.55) deve estimular os fundos de sistema a aumentarem suas vendas e forçar alguma liquidação de quem andou ficando long recentemente.
Uma ótima semana e muito bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting