Percepção da safra 18/19 brasileira é menor do que se imaginava, por Rodrigo Costa

Publicado em 12/02/2018 09:55

Os mercados acionários recuaram nos últimos cinco dias, tendo as bolsas das principais economias devolvido os ganhos de janeiro e encerrado esta semana com perdas acumuladas de quase 7% desde o fim de dezembro.

Não é de hoje que se fala de múltiplos inchados para grande parte dos papéis de empresas listadas, entretanto o argumento para justificar as valorizações era o baixo rendimento dos títulos soberanos.

Para os Estados Unidos a combinação do FED diminuindo seu balanço ao mesmo tempo que é implementado o estímulo fiscal de Donald Trump gerará uma necessidade de o governo atrair “novos” compradores para financiar o crescente déficit do país. Sendo assim, os títulos cederam, que é igual a dizer que a rentabilidade aumentou (os juros dos papéis subiram), e causaram uma queda de mais de 4% do Dow Jones em uma sessão.

O custo do dinheiro sendo imediatamente elevado faz com que os agentes ajustem as posições alavancadas, que por sinal são significativas, gerando uma volatilidade alta como pudemos notar através do VIX (índice que mede a volatilidade de ações) saindo de 16.80 para negociar a 50.30 pontos em um dia – uma “correção” de “apenas” 200%.

As commodities acabam sofrendo a influência, ainda mais em um mundo onde investidores vinham comprando matérias-primas energéticas e vendendo agrícolas para “neutralizar” suas exposições nesta classe de investimento, aproveitando do carrego que algumas têm como é o caso dos contratos de café, açúcar, milho e trigo, por exemplo.

Neste cenário de “liquidação” os fundos diminuíram suas posições, vendendo uma parte do que estavam comprados, como o petróleo, gasolina e óleo de aquecimento, e recomprando uma porção do que estavam vendidos, como café, açúcar e grãos.

Para o café o movimento significou módicos ganhos de US$ 1.05 centavos por libra-peso em Nova Iorque e US$ 24 por tonelada em Londres.

Considerando o fortalecimento do dólar em geral, incluindo contra o Peso Colombiano e o Real Brasileiro, a performance não foi ruim, ainda que os preços não consigam satisfazer quem precise comprar ou vender café no mercado físico.

Compradores internacionais mantêm a estratégia de comprar o estritamente necessário nos diferenciais praticados pelas origens, se aproveitando de alternativas mais baratas disponíveis no “spot”.

Prova do uso dos estoques disponíveis no destino (spot) é a queda dos inventários, certificados pelas bolsas e não-certificados. A European Coffee Federation informou uma queda de 548 mil sacas no mês de dezembro, ou 5.31% do total computado pela entidade. Para referência, há um ano havia 11.92 milhões de sacas nos portos reportados e pelo andar da carruagem estes cafés continuarão a ser utilizados pelos próximos cinco meses.

Se olharmos qualitativamente para a queda dos certificados da ICE, notaremos que os cafés do Brasil e Colômbia são o que mais caíram, reflexo, mais uma vez, da relutância destes países em acompanhar a “teimosia” do terminal em não subir.

As exportações brasileiras em janeiro totalizaram 2.49 milhões de sacas, menor do que as 2.65 milhões embarcadas há um ano. No Vietnã foi registrado um recorde de sacas exportadas em um mês, 3.34 milhões de sacas, também em janeiro, tendo contribuído as antecipações de embarques em função das comemorações do ano lunar, que começam no próximo dia 14.

Duas novas estimativas de safra para o Brasil foram divulgadas na semana. A Comexim estima uma produção em 60.7 milhões de sacas para 2018/2019, divididas entre 45.15 milhões de arábica e 15.55 milhões de conilon. A Unicafé avalia a safra de arábica em 43 milhões de sacas para o arábica e 15.85 milhões de sacas para o conilon, ou um total de 58.85 milhões de sacas.

A COFCO, multinacional importante e respeitada em diversas commodities, vê uma produção entre 55 e 58 milhões de sacas, segundo uma entrevista dada pelo responsável da área de soft-commodities.

Como podemos notar, números que indicavam uma safra próxima ou acima de 65 milhões de sacas não parecem ser a percepção da maioria e, portanto, podem gradualmente contribuir para dissipar um pouco esta sensação de que os preços devam cair muito mais.

A natural recomposição de estoques nas origens diminuirá os estoques no destino, swing sempre correlacionado com as cotações internacionais. Um custo crescente do dinheiro justifica também esta troca, que contribui para um quadro onde os diferenciais firmes sejam ajustados em algum momento para o terminal.

Um otimismo exagerado para uma alta da bolsa, por outro lado, ainda fica mais no campo de desejo do que factível, olhando para os ingredientes que temos agora, claro. Obviamente o equilíbrio é frágil e qualquer intempérie climática tem um potencial de alta muito grande para uma cultura perene como a do café.

Uma ótima se semana e muito bons negócios a todos.

Rodrigo Costa*

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

Fonte: Archer Consulting

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