O café parece apenas seguir o CRB e não qualquer fundamento, por Rodrigo Costa
O FOMC (equivalente ao COPOM brasileiro) manteve as taxas de juros inalteradas nos Estados Unidos mudando muito pouco o comunicado, mas ainda sim indicando uma continuação no (lento) processo de normalização monetária.
As bolsas acionárias continuam segurando a maior parte dos ganhos do ano, tendo com um dos motivos as “apostas” do FED eventualmente não promover um outro incremento do custo do dinheiro até o fim do ano.
O índice de volatilidade, VIX, tocou a mínima de vinte e três anos, reflexo, por exemplo, do S&P500 ter encerrado apenas em quatro sessões no ano com ganho ou perda de mais de 1% - muito abaixo da média de oscilações de quase cem anos.
As commodities ensaiaram uma perda no começo da semana, mas recuperaram e encerraram em alta, parcialmente ajudadas pelo derretimento da moeda americana (o índice DXY) no meio de crescentes crises internas do presidente Donald Trump – ou “Donald Duck”, como diz minha filha de três anos, sem maldade alguma.
O café em Nova Iorque acompanhou o movimento do CRB, inicialmente dando a impressão que cederia, para então caminhar rumo as máximas de maio, quando então o “C” tocou os US$ 140.00 centavos por libra-peso. O robusta em Londres ganhou tração mas cedeu levemente nos últimos cinco dias levando a arbitragem contra o arábica para US$ 40.00 centavos por libra.
Fundamentalmente o quadro quase não se alterou para justificar as oscilações do terminal, e isto tem sido verdade tanto para a baixa dos US$ 115.50 centavos como os atuais US$ 138.90 centavos, o que significa dizer que a bolsa tem se comportado basicamente simulando o vai e vem do índice CRB.
Assumindo isto como verdade podemos então dizer que o mercado futuro não refletiu qualquer expectativa da potencial super-safra 18/19 brasileira, como alguns possam sugerir, e tão pouco os diferenciais historicamente caros do Brasil, não é?
Na verdade, é impossível traçar estas suposições, mas vale como exercício para compor a análise de diferentes cenários. Se a queda acentuada de junho teve fixações, ou antecipações de vendas do esperado superávit de 18/19 e o mercado conseguiu recuperar US$ 24.00 centavos desde então, as chances de vermos um terminal beirando US$ 1 dólar diminuem. Já se nada relacionado a expectativa da “grande safra brasileira” está no preço, eventualmente uma florada linda e estoques que teimam em não cair no destino podem ser bem negativos e limitar a janela de uma alta.
A limitação que menciono é em termos de timing, pois em teoria em outubro, ou em pouco mais de dois meses, estaremos no momento que diversos participantes acreditam que qualquer “retenção” de venda que esteja existindo por parte dos produtores deverá diminuir – leia-se: as ofertas serão mais francas.
O noticiário internacional tem divulgado as preocupações sobre broca, cafés menos graúdos e também o rendimento mais baixo da safra que está acabando de ser colhida no Brasil, mas por ora não tem ninguém comprando estes “problemas” – o que pode ser bem positivo para o café, caso se confirmem.
O mês de agosto é um dos mais lentos de comercialização na Europa e Estados Unidos, dado que muitos saem de férias. A procura no FOB tem sido ligeiramente melhor, talvez em função disto mesmo, colocar algo no livro antes dos traders viajarem com suas famílias.
As exportações brasileiras pelo andar da carruagem devem ser ainda mais baixas em julho, mas por outro lado os estoques parecem que não cederão, como temos visto os certificados da ICE incrementando.
O relatório do Commitments of Traders mostrou os fundos liquidando 9,758 lotes da posição bruta-vendida, bastante para um mercado que caiu US$ 4.30 centavos no período reportado. Os comprados também diminuíram suas apostas na alta, aí sim justificado pela baixa. Os comerciais, participantes envolvidos com o mercado físico, venderam 920 mil sacas (3,247 lotes) e liquidaram 855 mil sacas (3,016 lotes), também demonstrando uma postura menos positiva aos preços.
O fechamento da semana, entretanto, foi tecnicamente bastante positivo com o rompimento e manutenção acima da média-móvel de cem dias e acima de uma linha de alta bem inclinada. Uma continuação de compras de commodities dará uma ajuda aos altistas para forçar mais liquidação da posição vendida dos fundos.
Aos que precisam vender café é uma boa oportunidade para aproveitarem o movimento, pois uma reversão pode acontecer a qualquer momento e mesmo que os preços não sejam os almejados não custa lembrar que desde novembro de 2016, quando Nova Iorque foi a US$ 180 centavos, os altistas têm aguardado um retorno ao nível, o que não aconteceu e tem custado bastante dinheiro a muitos.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting