MERCADO DO CAFÉ: Oferta justa, mas e a demanda?

Publicado em 06/02/2012 06:25
Comentário Semanal - de 30 de janeiro a 3 de fevereiro de 2012
No primeiro mês de 2012 os investidores voltaram a alocar parte de seus recursos em ativos de risco, fazendo com que os principais índices acionários ganhassem até agora entre 5% e 14% em dólares.

Rumores de uma eventual diminuição de juros na China, assim como de um novo pacote de estímulo nos Estados Unidos provocaram uma alta também nas commodities, apesar da situação do débito soberano na Europa e de algumas diminuições na nota das dívidas de alguns países da região.

As matérias-primas que mais subiram desde o dia 1 de janeiro foram o suco de laranja com alta de 22.16%, a prata com 20.22%, e o cobre com 13.64%. Apenas quatro produtos que compõe a cesta do CRB estão em baixa, o gás natural -18.40%, o café -4.8%, petróleo, -0.91% e milho -0.31%.

O cenário macroeconômico sem dúvida ainda tem impactado movimentos de curto-prazo, entretanto estamos notando respostas condizentes com os fatores intrínsecos de cada componente, como por exemplo o inverno ameno no hemisfério norte que impactou negativamente o setor de energia e notícias de problemas com fungicidas usados nas laranjas no Brasil.

O mercado futuro de café desde meu último comentário em dezembro ensaiou uma alta, chegando a negociar a US$ 240.00 centavos por libra em Nova Iorque, mas devolveu rapidamente os ganhos e está praticamente no mesmo patamar de preço.

Os altistas têm demonstrado frustração e tentam buscar explicações para a dificuldade dos preços apreciarem, dado que a safra brasileira deve ficar em torno de 55 milhões de sacas e não mais os 60 milhões uma vez imaginados. A firmeza do mercado interno brasileiro, que se traduz em diferenciais positivos de reposição para a maior parte das qualidades do arábica, é um outro fator que causa estranheza aos que crêem em uma alta do terminal. 

Somam-se a isto os cafés colombianos negociando acima de 30 centavos de prêmio, e o interesse de compra dos torradores para entrega imediata, e surgem mais perguntas do que respostas.

O que será que está acontecendo?

Os baixistas dizem que o consumo está recuando na Europa, nos Estados Unidos e Ásia, e apontam também para uma expectativa de recuperação dos estoques mundiais com o superávit do ano safra 12/13.

Eu acredito que o “esvaziamento” de Nova Iorque se deve a uma maior “produtividade” dos torradores, e também uma maior utilização do robusta, que é US$ 175 por saca mais barato do que o arábica. Ainda que a indústria tenha maximizado o uso deste tipo de café em seus blends, há a possibilidade de concentrarem uma produção maior de algumas marcas de seus produtos que usem, digamos 100% de robusta, em detrimento de outras que tem uma mistura mais cara. 

Dentro do termo “maior produtividade” pode-se citar entre outras coisas a diminuição do conteúdo em embalagens vendidas ao consumidor, mas o que chama atenção é a percepção que tínhamos há um ano do consumo com o momento atual. Aparentemente o volume importado pelos países consumidores não foi todo torrado, desta forma o desaparecimento eventualmente foi menor e portanto os estoques estão mais confortáveis do que se imaginado.

O pior é que o pico do consumo está praticamente acabando, e os estoques visíveis que desaparecem não são o do arábica. Fora isso parece que as origens têm um inventário razoável, e logo chegam as safras do Perú e depois do Brasil, ou seja o torrador que comprava da mão para boca em nada mudará o seu hábito.

O preços alto do terminal, que tem se mantido acima de dois dólares há mais de um ano, tem contribuído para o aumento de produtividade no campo, com destaque para países como Etiópia e Honduras, que inclusive tem diferenciais bem mais atrativos do que os naturais brasileiros neste momento. 

O Brasil estando caro para os compradores aqui de fora, como está, é um fator negativo para o café brasileiro que ganhou maior participação no mercado desde a quebra da safra da Colômbia há três anos. 

Não que o mundo consiga viver sem Brasil, na verdade é completamente o contrário, mas no meio de uma crise que se arrasta há quatro anos, e com descobertas pela indústria de consumidores não tão exigentes, o uso de outras origens / qualidades nos blends pode acabar tirando um pouco do interesse dos torradores em manter algumas qualidades caras do Brasil. Com isso eles podem esperar por preços mais competitivos e também aumentar a compra de outros países produtores que tem tido safras crescentes.

Apesar do tom mais negativo do comentário, não consigo ficar baixista neste momento pois em minha opinião os ajustes mencionados acima já estão no preço. Portanto me parece que estamos mais próximo da parte baixa do intervalo de US$ 200.00 / 260.00 centavos, salvo uma valorização do dólar americano que acontecendo pressionará mais a bolsa. 
Fonte: Archer Consulting

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