Mercado de açúcar: "A culpa é do usineiro", por Arnaldo Luiz Correa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira praticamente inalterado. O contrato de outubro/21, que expira na semana que vem, finalizou a 19.16 centavos de dólar por libra-peso (apenas 2 pontos abaixo do fechamento da semana anterior). O contrato para março/22 encerrou 10 pontos acima da sexta passada, a 19.96 centavos de dólar por libra-peso. Os demais vencimentos tiveram leve alta entre 2 e 9 pontos. O dólar acabou a semana negociado a R$ 5,3384 uma queda de 1% em relação à semana passada.
Como era de se esperar, o spread outubro/março abriu mais, ou seja, aumentou o desconto do primeiro mês em relação ao segundo, evidenciando que os detentores de posições compradas no contrato futuro de outubro querem se livrar do açúcar o quanto antes. Seja qual for a razão: frete alto no curto prazo, acomodação no fluxo de caixa ou falta de comprador no destino final, o fato é que o desconto subiu para mais de 10.5% ao ano equivalente. Se tivermos uma entrega volumosa de açúcar na próxima quinta-feira na expiração do contrato de outubro, o mercado futuro de NY pode sentir o baque da anemia contagiosa do físico e se mover em direção aos 19 centavos de dólar por libra-peso.
Similarmente ao que ocorreu no Brasil, com as usinas adiando novas vendas e fixações de preço de seus açúcares para a exportação, também a Índia está embarcando nessa aposta. Sob o argumento de que a seca, a geada e os incêndios que atingiram parte dos canaviais do Centro-Sul reduzirão a disponibilidade de açúcar por parte do Brasil a partir da próxima safra, os exportadores indianos resolveram dar uma pausa. Acreditam que os efeitos climáticos deverão elevar os preços do contrato futuro de açúcar em NY para além dos 20 centavos de dólar por libra-peso.
A Índia, pela primeira vez na história, fechou contratos de exportação de açúcar antes de iniciar a safra aproveitando os preços altos no mercado internacional. Mais de 1.2 milhão de toneladas estão fixadas e vendidas. Agora, percebe-se um ritmo mais lento e os exportadores indianos acreditam que conseguirão vender seus açúcares ao redor de 21.50 centavos de dólar por libra-peso. Esperanças vãs ingênuas substituem o pragmatismo que deveria conduzir as negociações comerciais.
A EverGrande, um dos principais grupos incorporadores imobiliários da China assusta o mercado com o passivo beirando os US$ 300 bilhões e a dúvida se a empresa será capaz de honrar seus compromissos. Como o governo chinês procura controlar tudo, pode ser que o que estamos vendo do lado de fora seja bem diferente do que se passa dentro da empresa. Se a derrocada da empresa realmente se suceder, considerando que o mercado e serviços imobiliários representam 29% do PIB chinês, é de se esperar que haja contaminação para os demais setores da economia e, principalmente, para as commodities. Portanto, esse pode ser um evento de cauda que tem potencial de sacudir as cotações das commodities no mercado internacional. Nunca é demais lembrar da Lehman Brothers na crise financeira de 2008. Vale a pena pensar na compra de uma opção de venda fora-do-dinheiro? A resposta é um sonoro sim.
O Banco Itaú reduziu sua previsão de crescimento do PIB para 2022 para 0.5%, em parte devido ao aumento da taxa básica de juros. O banco prevê uma SELIC para final de 2022 ao redor de 9% ao ano. Outras instituições colocam esse patamar em 10%. Como disse aqui por várias vezes, 2022 será um ano extremamente danoso para a economia brasileira, agravado pelas eleições presidenciais.
O Presidente da República declarou que a culpa do alto preço da gasolina – vejam só - é do etanol pois a mistura de 27% de etanol na gasolina encarece o preço do produto na bomba. Portanto, basta encolher essa mistura para 18%: “os usineiros vão chiar, porque eles têm um mercado garantido hoje em dia”, disse Sua Excelência. Dá para notar que, dentre tantos outros assuntos, o PR também desconhece a estrutura tributária que acompanha cada produto e acha que basta reduzir a mistura do “vilão” anidro para 18% (dos atuais 27%) para baixar o preço da gasolina na bomba como um passe de mágica. Acostumado a bolçar patacoadas, essa é foi apenas mais uma.
Vamos aos fatos: se o governo mudasse a mistura de 27% para 18% (mínimo permitido pela legislação atual) o preço da gasolina na bomba diminuiria em apenas R$ 0,0100 por litro. Portanto, não é o percentual de mistura que determina o preço alto da gasolina, mas uma combinação do preço do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio, sem contar – evidentemente – com as diferentes cargas tributárias dos produtos que a compõem. Como o real é uma das moedas que mais se desvalorizou entre os países emergentes desde a pandemia, é aí que reside grande parte do problema. E a moeda brasileira se desvaloriza por que? Perda de credibilidade do País no cenário internacional, crise fiscal insolúvel, crise energética que compromete o crescimento e a retomada da economia e as intermináveis crises políticas cujo nascedouro é o próprio Planalto. Mas, para o presidente, a culpa é sempre do outro. E o “outro” da vez é o usineiro.
Pelo fechamento do dólar e da gasolina nesta sexta-feira, o que se sabe é que a Petrobras já tem uma defasagem de R$ 0,2775 por litro comparativamente ao preço atualmente praticado para as refinarias. Ou seja, existe um potencial ainda mais explosivo de alta no preço dos combustíveis que vai alimentar a espiral inflacionaria com todos os efeitos deletérios dela resultantes.
Numa tempestade perfeita para o próximo ano em que podem ser vistas combinadas uma elevação do preço do petróleo por conta do verão no hemisfério norte, quando a demanda por gasolina está normalmente em seu pico sazonal e, aqui, um real mais volátil em função das eleições, o preço da gasolina na bomba pode chegar facilmente aos R$ 7,0000 por litro no estado de São Paulo.
No passado, o setor pagou caro pela politica populista dos governos petistas que administraram os preços dos combustíveis de tal forma que havia gasolina barata às custas do contribuinte (via prejuízo da Petrobras) e dos usineiros (em 60% do tempo que esse pessoal estava no poder, o hidratado era vendido abaixo do custo de produção). Agora, com esse governo que se dizia liberal e que prometia “mais Brasil e menos Brasília” e cujo ministro da economia é um animador de auditório, podem escrever que as redes sociais alimentadas pelo ódio vão se virar contra o setor sucroalcooleiro. Até que outro culpado entre na mira do governo. Espero estar errado.
Está chegando a hora. Daqui a algumas semanas começam os nossos cursos: o Essencial vai ocorrer entre os dias 18 e 22 de outubro e o Avançado de Opções entre os dias 8 e 12 de novembro. Sempre com início às 16 horas e com duas horas e meia de duração. Depois dessas datas, só em 2022.
Uma excelente semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa