Mercado de açúcar: "Um pouco de tudo", por Arnaldo Luiz Correa
“Não existe opinião pública, existe opinião publicada.”
Sir Winston Churchill (1874 - 1965)
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou o pregão de sexta-feira, com os dois primeiros vencimentos, outubro/20 e março/21 valorizando 26 e 15 pontos respectivamente, fechando a 13.03 e 13.53 centavos de dólar por libra-peso.
O dólar se valorizou em relação ao real em mais de 5% na semana, encerrando cotado a R$ 5,5600. Com isso, abre espaço para a elevação do preço da gasolina e consequentemente melhora o preço do etanol eventualmente estreitando a arbitragem com o açúcar. No entanto, pelo fechamento do etanol B3 (antiga BM&F) o hidratado negocia aproximadamente a 200 pontos de desconto em relação ao açúcar em NY.
Devido à seca, a Tailândia espera a maior redução na produção de açúcar ao longo de uma década. Os números mostram uma produção entre 7.1 e 7.25 milhões de toneladas. No entanto, com o Brasil retomando parcialmente sua fatia de mercado e o covid-19 responsável por uma retração no consumo mundial de mais de 3 milhões de toneladas de açúcar, difícil acreditar que os preços do açúcar em NY podem reagir de maneira positiva à situação daquele país.
Os números divulgados pela UNICA referentes à primeira quinzena de setembro/2020 apontam para uma produção acumulada de açúcar de 29 milhões de toneladas, um acréscimo de 45% em relação ao mesmo período da safra passada. Nas cinco últimas safras, a produção total de açúcar acumulada na primeira quinzena de setembro representou em média 72.9% do total de açúcar produzido naquele ano safra. Se tomarmos as últimas dez safras, a diferença não é tão grande: 71.8%. Dessa forma, podemos inferir que a produção total de açúcar será de quase 40 milhões de toneladas?
Não, não dá para usarmos essa lógica, pois a moagem vai sofrer enorme redução – segundo muitos agrônomos – a partir do final de outubro. A estimativa da Archer Consulting para esta safra, publicada em 11 de abril de 2020, apontava para 35.8 milhões de toneladas de açúcar. O mercado acredita hoje em mais de 37 milhões de toneladas.
Semana que vem expira o contrato de setembro de 2020 e com ele as especulações acerca da entrega. O mercado fala entre 1.0 e 1.5 milhão de toneladas de açúcar. O mercado físico de exportação assistiu a uma melhora do basis, segundo alguns corretores, estreitando 10-15 pontos.
Os fundos compraram mais de 35,000 lotes na semana atingindo uma posição comprada, com base na terça-feira passada, de 172,279 contratos. No período o mercado subiu 81 pontos, ou aproximadamente 438 contratos para cada ponto de elevação. Antes, os fundos precisariam de mais lotes para conseguir mover o mercado dessa maneira. Isso mostra, ou pelo menos parece mostrar, que os fundos encontram menos resistência (menos vendas sendo feitas?) na subida ou as usinas estão receosas que problemas climáticos possam afetar a próxima safra. Apenas conjecturando.
Você, cara leitora e caro leitor, que acompanha nossos comentários, que se dedica ao estudo do mercado de futuros, opções e derivativos e se debruça, ainda que de maneira inconstante, nos livros e relatórios para entender as nuances do mercado futuro, deve - coberto de razão - ficar estarrecido com a notícia do próximo parágrafo. Sim ou não? Uma vergonha.
Segundo a Bloomberg, o JPMorgan Chase & Co estão prestes a anunciar um acordo com as autoridades americanas do CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo que regula os mercados de futuros e opções das commodities, de cerca de US$ 1 bilhão pela manipulação nos mercados de metais e títulos do Tesouro. O acordo encerraria as investigações da agência.
Uma das “estratégias” usadas é chamada de spoofing, que consiste em inundar o mercado de derivativos com ordens que os operadores não intencionam executar, mas o fazem objetivando levar o mercado para determinada direção e lucrar com isso. Obviamente que não é proibido dar uma ordem e cancelá-la em seguida, ocorre que esse tipo de ordem é ilegal por fazer parte de uma estratégia destinada a enganar outros operadores.
Está cada vez mais difícil para o profissional de mercado olhar o valor que está sendo negociado na tela e discernir que aquele valor é justo ou manipulado.
A Archer Consulting está lançando dois cursos inteiramente on-line e ao vivo: o Curso Essencial de Futuros em Commodities Agrícolas que vai ocorrer de 23 a 27 de novembro, destinado àqueles que precisam dos conhecimentos essenciais acerca do funcionamento do mercado de commodities; e o Curso Avançado de Opções em Commodities Agrícolas, de 30 de novembro a 04 de dezembro. Todos das 17 às 19 horas por meio da plataforma Zoom®, e gravados para posterior revisão. Mais informações no e-mail priscilla@archerconsulting.com.br.
Tenham um excelente final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa