Mercado de açúcar: "Prudencia nunca é demais", por Arnaldo Luiz Correa
O mercado de açúcar em NY encerrou o pregão de sexta-feira com o contrato para vencimento outubro/20 negociado a 11.76 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 48 pontos em relação à semana passada (10.50 dólares por tonelada). Os demais vencimentos ao longo da curva também fecharam em território negativo com maior pressão nos meses de vencimento mais curto.
A semana foi relativamente calma, sem sobressaltos, com uma ligeira melhora no otimismo em relação à recuperação da economia e o real, por exemplo, encerrou inalterado comparativamente à semana anterior (R$ 5.3241). Até o Bovespa, refletindo esse espírito mais leve, voltou ao nível que estava antes da pandemia do novo coronavirus.
É difícil compactuar com tanto otimismo se ainda não sabemos a extensão da queda do consumo provocada pela crise sanitária, política e econômica. A estimativa de retração da economia brasileira para este ano varia de uma queda de 6.5% segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central do Brasil contendo o resumo das expectativas do mercado para alguns indicadores da economia brasileira, e o FMI (Fundo Monetário Internacional) que aponta um tombo de 9.1%. Alguns analistas acreditam que só teremos mais clareza sobre isso no final de agosto e início de setembro. Enquanto setembro não vem, cautela.
A queda nas vendas do etanol no trimestre abril/maio/junho foi de 22.7% em relação em mesmo período do ano passado. Alguns analistas acreditam que vamos encerrar o ano safra (que cobre abril de 2020 até março de 2021) com queda de 11%, um palpite como qualquer outro.
As exportações de açúcar no mesmo período alcançaram 7.16 milhões de toneladas, volume 64% superior ao do mesmo período do ano passado, animando aqueles que apostaram que o Brasil exporta mais de 30 milhões de toneladas de açúcar neste ano safra. De qualquer forma, no acumulado de doze meses, as exportações somam 21.8 milhões de toneladas, 13.4% acima do acumulado de doze meses atrás. Também a exportação de etanol, aproveitando a robustez do dólar, acumulou nos doze meses 2.1 bilhões de litros, volume que não era atingido cumulativamente desde novembro de 2016.
Os números publicados pela UNICA mostram que o total de cana moída até dia 1º de julho somou 229.4 milhões de toneladas, 5.2% acima do mesmo período do ano passado e a produção de açúcar cresceu 48.75% alcançando 13.3 milhões de toneladas. A produção de etanol caiu 6.6% no período acumulando 10 bilhões de litros. O mix até o momento mostra 46.4% de açúcar e 53.6% de etanol, contra 34.7% e 65.3%, respectivamente, no mesmo período do ano passado.
Todos concordam que a safra está mais adiantada, certo? Se observarmos quanto que a moagem acumulada até 1º de julho, nas últimas oito safras, representou percentualmente no final de cada um daqueles períodos, temos um percentual médio de 33.4%. No entanto, como estamos concordando que a safra está mais adiantada, vamos usar a média mais alta dos últimos 5 anos, que é 39%. Assim, a “previsão” simplista leva o total para 588 milhões de toneladas de cana. A média das estimativas do setor, segundo o site da Novacana, é de 599.14 milhões de toneladas. Apenas um palpite.
Alguns bancos ligados ao setor voltaram a oferecer NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, considerando o cupom cambial. Recentemente, como comentamos aqui, havia um desconto para a taxa do dólar futura em relação ao mercado à vista, indicando que os bancos estavam muito expostos na moeda americana e não queriam adicionar volatilidade ao seu portfólio e, obviamente, prejudicando as usinas que queriam fixar preços para os meses mais distantes.
Fixar preços de venda de açúcar em reais por tonelada para esta e para as próximas safras continua na ordem do dia. O valor presente dessas fixações apresenta excelente remuneração para grande parte das usinas. Linearmente, para a safra 2021/22 temos R$ 1,447 por tonelada FOB e para a seguinte, R$ 1,394 por tonelada. Lembrando que ao fazer esse hedge, a usina continua exposta ao risco de base, ou seja, ao prêmio ou desconto que irá negociar seu açúcar no mercado físico.
Os comitês de risco das empresas precisam se debruçar sobre muitos dos conceitos que permeiam o processo decisório e revisá-los. Tenho discutido muito esse assunto nas aulas de derivativos com alunos vindos de todo tipo de empresa ligada ao agronegócio. Não é raro vermos políticas de risco estabelecidas dentro das empresas, escritas em pedra, cuja base de sustentação é tênue. Tomam por base percentuais máximos de fixação em determinado período da safra sem levar em consideração, por exemplo, o quanto o resultado de determinada operação comercial afeta o EBIT da empresa. Isso precisa mudar
Temos recebido muitos e-mails pedindo informações sobre os próximos cursos da Archer. A boa notícia é que em setembro vamos lançar nosso já consagrado Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos - Commodities Agrícolas, inteiramente on-line e ao vivo. Serão seis dias de curso com duração total de dezoito horas, em duas semanas consecutivas. Reserve sua vaga mandando mensagem para priscilla@archerconsulting.com.br . Brevemente vamos retornar com mais detalhes e informações.
Um bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Corrêa