Mercado de açúcar: "Posição dos Fundos é nitroglicerina pura...", por Arnaldo Luiz Correa
O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento para julho/2019 encerrou o pregão de sexta-feira negociando a 11.70 centavos de dólar por libra-peso, num dia de baixo volume, provavelmente por conta do feriado.
Os fundos continuam adicionando novas vendas em suas já bastante volumosas posições. Segundo o relatório publicado na sexta-feira, mas referente às posições dos comitentes na terça-feira passada, os fundos estavam 186,733 lotes vendidos a descoberto. Isso equivale a 9.5 milhões de toneladas de açúcar, muito além de qualquer número de superávit.
Se a racionalidade entrasse na equação dessas vendas agressivas geradas por algoritmos, certamente haveria maior cautela por parte dos fundos em não aumentar o risco dada a perspectiva positiva dos fundamentos de médio e longo prazo no açúcar. No entanto, como discutido nesse espaço algumas vezes, a racionalidade não tem sido presença muito constante nos mercados de commodities recentemente.
A suposição que discutimos de que os fundos poderiam estar repetindo a mesma estratégia usada no último trimestre do ano passado, em que estavam pesadamente comprados em energia e pesadamente vendidos nas soft commodities, perde força. Naquela ocasião, quando liquidaram suas operações para realizar lucros, os fundos venderam as commodities energéticas e recompraram as softs, fazendo com que café a açúcar subissem de maneira vertiginosa. O petróleo caiu esta semana e o açúcar também.
Petróleo caindo e o dólar voltando para R$ 4,0100 piora a arbitragem do etanol com a gasolina e introduz um pouco mais de volatilidade no preço do açúcar. Além disso, o spread julho e outubro em NY é mais um fator complicador que impede o açúcar de reagir. Ocorre que o mercado tem expectativa de que a entrega física de açúcar contra o vencimento do contrato de julho em NY, que expira no final de junho, seja novamente de açúcares da América Central. Isso faz com que os detentores de posições compradas no julho, que em nenhuma hipótese querem receber açúcar nesses destinos, revendam suas posições compradas rolando-as para o vencimento seguinte, pressionando assim o spread.
Na Índia, a vitória esmagadora de Narandra Modi, reeleito como Primeiro-Ministro reforça a politica de ajuda aos produtores de cana. Naquele país, o preço da cana é negociado ao triplo do valor pago pela matéria-prima no Centro-Sul.
A única notícia na semana que teria sido capaz de mexer com o mercado (para cima) foi a China concordando em retirar os 50% de sobretaxa do açúcar brasileiro. O mercado tentou uma reação, mas foi pífia.
O que nos surpreende agora no mercado, que não abre nesta segunda-feira devido ao feriado nos Estados Unidos (Memorial Day), é a posição gigantesca dos fundos. Com o imenso lucro não realizado que eles devem ter nesse momento, comparativamente com o preço médio, a vulnerabilidade dessa posição aponta para um cenário altista.
Qualquer menor faísca, menor tremor que possa sensibilizar algum gestor de fundo para realizar lucro, pode ser fatal em especial se levarmos em conta que boa parcela das usinas rolaram parte de suas posições originalmente atribuídas ao vencimento junho para outubro, diminuindo possivelmente a liquidez que os fundos teriam ao rolar ou liquidar a posição. E a pergunta que fizemos outro dia: você quer ficar vendido a 12 centavos de dólar por libra-peso no médio longo prazo?
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Bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting