Mercado de açúcar: MEIO BILHÃO DE DÓLARES NA ENTREGA DE MAIO

Publicado em 02/05/2015 11:52
por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting

Nada como uma entrega de mais de 1.900.000 toneladas (37,611 contratos!) para animar o mercado, não é mesmo? Claro que não. Um recorde histórico para o contrato de açúcar de NY no atual formato desde 1961. Quando uma entrega dessa magnitude ocorre é porque o melhor comprador/melhor preço é mesmo a bolsa, fosse diferente não haveria uma entrega desse tamanho. A bolsa é sempre o último recurso do vendedor. E pelo tamanho do tíquete se percebe como o mercado de açúcar está desanimador.

Claro que há uma combinação de fatores e estratégias que explicam tal operação do ponto de vista do vendedor/entregador: uma competente negociação do spread, um livro comercial com descontos compatíveis, muitas tradings devem ter vendido a descoberto pelo volume que vem do Centro-Sul (quase 1.2 milhão de toneladas). Quem entrega sabe que, pelo contrato, o comprador pode apresentar o navio até 75 dias depois da expiração do mês de vencimento, ou seja, até 15 de maio. Quanto representa em termos de pontos o custo financeiro e a armazenagem por um período de 75 dias? Cada trader tem sua própria planilha de custo mas, não é difícil estabelecer algo como 45 pontos de desconto. Aqueles que entregam acreditam que esse é o melhor negócio que eles possuem nesse momento. O reflexo dessa pasmaceira e anemia é um empurrar com a barriga para novos negócios e contratos de longo prazo.

Do ponto de vista do comprador/recebedor, uma única trading asiática líder no agronegócio mundial, é uma aposta de suprir/realocar suas operações de refino na Austrália, Nova Zelândia e Indonésia num momento e que o açúcar parece estar no nível de preço mais baixo com a possibilidade de reentregar o produto no próximo vencimento.

O mercado pode ter duas reações nos meses que virão. Menos disponibilidade de destinos finais que a única trading recebedora vai tentar preencher com a enorme quantidade de açúcar que vai receber, além dela própria poder destinar esse açúcar para suas refinarias ou para tolling (processo industrial de conversão do açúcar bruto em refinado), ou seja, no mercado insosso que estamos o spot pode ter descontos maiores vindo da parte daqueles que ainda não possuem contratos comerciais. O outro lado da moeda é que havendo atraso na moagem provocada por condições climáticas desfavoráveis pode haver pressão por cobertura de posições curtas, aquelas mesmas que supõe-se ter ocorrido no Centro-Sul dado o enorme volume destinado a entrega.

Na semana passada mencionamos que o pior dos mundos poderia estar ocorrendo: o açúcar caindo com o real se valorizando em relação ao dólar, representando menos reais nas mãos do produtor. Com o fechamento de sexta-feira, o contrato julho/2015, que agora passa a ser o primeiro vencimento, encerrou a 12.91 centavos de dólar por libra-peso. Como o dólar para vencimento em julho deve estar por volta de 3.0600 o valor equivalente FOB está ao redor de R$ 890 por tonelada. O etanol está liquidando melhor e deve incentivar às usinas a desviar mais cana para sua produção.

Praticamente o mercado de açúcar continua sua toada de queda mas parece-me que por razões exógenas a ele (petróleo que subiu 15% no último mês, por exemplo) a inclinação da curva está menos íngreme. O limite de NY, como dissemos aqui a exaustão, deve ser o equivalente do açúcar FOB a R$ 850 por tonelada equivalente, algo que hoje com o dólar a 3.013 coloca o vencimento julho/2015 em 12.30 centavos de dólar por libra-peso.

A repercussão sobre o imposto sobre ganho nas operações de hedge apresentada no comentário da semana passada foi muito grande, em especial por leitores de outras commodities que foram pegos de surpresa com o decreto que entra em vigor em 1° de julho próximo. Um deles, disse que acha impressionante que o ministro Levy, um homem de mercado, conhecedor de suas regras e funcionamento, possa taxar operações de hedge que em sua essência não objetivam ganho especulativo mas proteção, tenha levado adiante um decreto esdrúxulo como esse.

Se a estimativa nossa é que quase R$ 100 milhões devem ser extraídos do mercado de açúcar, o valor em todo o Brasil, exportador de commodities e usuário de instrumentos de hedge, pode passar de R$ 1 bilhão. É o setor produtivo que sustenta o país e mais uma vez recebe esse “presente” do governo federal. Calma pessoal, faltam apenas 1.340 dias para o Brasil se livrar da Dilma.

Um bom final de semana a todos.

Arnaldo Luiz Corrêa

Fonte: Archer Consulting

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